Uma empresa de demolição e reciclagem é suspeita de revender produtos recolhidos de mercados inundados pela enchente. Durante três dias, o GDI flagrou mercadorias como tubos de creme dental e latas de refrigerante e cerveja sendo lavadas e armazenadas na garagem do dono da empresa, no bairro Santa Tereza, em Porto Alegre. Uma operação policial cumpriu buscas hoje em cinco endereços ligados ao dono da recicladora.
Imagens obtidas pelo repórter cinematográfico Rodrigo Prado mostram um rapaz utilizando mangueira para lavar frascos de pasta de dente. Ele também retira de uma geladeira velha, deitada sobre o pátio da residência, diversas latas e as coloca em uma caixa plástica. Os flagrantes mostram o material sendo levado para dentro da garagem, onde é armazenado com a ajuda de outras duas pessoas.
Nesta sexta-feira (28), policias da Delegacia do Consumidor, integrantes do Ministério Público e fiscais do Procon e da Vigilância Sanitária foram ao local e em mais quatro endereços ligados ao dono da Ambos Demolidora.
— A gente encontrou bastante material de higiene pessoal e alimentos enlatados, embalados em embalagens plásticas, que tudo indica que eles estavam sendo recondicionados para um posterior comércio — diz a delegada do consumidor Cristiane Becker.
Durante as buscas, os fiscais do Procon perceberam que produtos supostamente lavados continuavam sujos, caso do creme dental e de sprays utilizados para perfumar residências, cujos frascos continham sob a tampa água suja da enchente.
— Esse frasco que está na minha mão demonstra que o material foi molhando da enchente, tem marcas ainda do lodo aqui, da lama da enchente — observou o diretor do Procon de Porto Alegre, Rafael Gonçalves.
Até o detergente estava sendo reaproveitado.
— Imagina que a pessoa vai lavar seus talheres, sua louça, seu prato, seu copo com esse produto aqui que está contaminado, provavelmente vai colocar em risco toda a sua família aí, a saúde da sua família, com risco de contaminação por diversas doenças — adverte Gonçalves.
A fiscal da Vigilância Sanitária de Porto Alegre, Tânia Speroni, que participou da operação, diz que há risco de contaminação.
— Fica resíduo, é uma contaminação residual que pode levar a problemas de saúde gravíssimos, leptospirose e até a morte mesmo, né? Porque é uma limpeza muito superficial— afirma Tânia.
Indagado pelo GDI, o dono da empresa, João Paulo Ambos, disse que a responsabilidade pelo reaproveitamento dos produtos é dos funcionários.
— O pessoal que trabalha na nossa empresa trouxe pra reaproveitar e fazer algumas doações. Então os materiais estão sendo limpos e estão levando pra eles — garantiu.
O inquérito aberto pela polícia para investigar o caso apura se houve crimes contra as relações de consumo, com pena de até cinco anos de prisão em caso de condenação.
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