Por valores que oscilam de R$ 75 a R$ 200, golpistas oferecem na internet Carteira Nacional de Habilitação (CNH) digital falsa. Por meio de troca de mensagens no Telegram, enviam modelo dos documentos aos interessados. Mas eles admitem ao possível cliente que, apesar da obtenção da CNH, os dados dele não vão constar no sistema do Detran.
Foi fazendo essa conferência que policiais rodoviários federais prenderam um condutor, na semana passada, usando um aplicativo falso enquanto dirigia na BR-116, em Barra do Ribeiro. A CNH digital que ele exibia no celular é semelhante às ofertadas no Telegram.
O Grupo de Investigação da RBS (GDI) entrou em contato com duas pessoas que ofereciam o documento falso. O primeiro deles publicou anúncio em grupo especializado em fraudes, informando em que situações a CNH falsa poderia ser útil. O estelionatário cita que com o documento seria possível se hospedar em hotéis, comprar passagens aéreas e chips de celular, retirar mercadorias em lojas virtuais e entrar em shows e eventos.
— A CNH, ela vai constar diretamente no aplicativo, eu te mando o app (aplicativo) para você instalar — afirmou para a reportagem, em mensagem de áudio.
O aplicativo usado na fraude não está disponível nas lojas oficiais dos sistemas operacionais, devendo ser baixado de um site e instalado manualmente no aparelho, o que já representa risco ao usuário.
— O grande problema de você baixar um aplicativo desses é de que todos os dados que você fornece ficam expostos, ficam vulneráveis pros criminosos. Você deixa o celular completamente vulnerável e todas as operações que você faz ali, podem ser coletadas — adverte o especialista em tecnologia Ronaldo Prass.
Caso seja descoberto, o comprador comete infração gravíssima, com multa de R$ 293,47, sete pontos na carteira, e responde a processo por estelionato, com pena de até cinco anos de prisão, em caso de condenação.
Outro golpista localizado pela reportagem no Telegram enviou um vídeo mostrando como funciona a CNH digital falsa. Assim como no documento digital verdadeiro, existe um código para supostamente comprovar sua autenticidade. Mas quando esse código é escaneado aparece na tela um site para consulta de placas, que pode ser uma armadilha pra roubar dados do motorista. O vendedor reconhece: os dados do comprador não vão aparecer no sistema do Detran.
— No sistema é impossível, irmão — ele admite.
Foi o que aconteceu com um motorista abordado na BR-116, em Barra do Ribeiro, na semana passada. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, ele dirigia de maneira perigosa e agressiva. Ao ser parado, apresentou a CNH digital no celular.
— Conseguimos verificar que (a CNH) era falsa, já que a habilitação verdadeira dele tinha vencido em 2005. Se não houver a checagem pelo QR Code ou através de algum sistema,(a CNH falsa) passa — afirma o policial rodoviário federal Felipe Barth.