Um dos maiores mistérios da crônica criminal gaúcha completa 30 anos neste domingo (7). Onde está Marcelo Alifantis? O menino, morador de Canoas, desapareceu em janeiro de 1994, aos 14 anos, enquanto jogava bola na praça próxima à sua casa, na Vila Hércules.
Homens que se identificaram como sequestradores chegaram a telefonar para os pais do sumido e exigir um resgate de US$ 200 mil (cerca de R$ 1 milhão, em valores atuais). Apesar dos esforços da família para reunir a quantia exigida, o garoto jamais foi encontrado.
O suposto sequestro mobilizou a Polícia Civil gaúcha durante anos. Marcelo da Rocha Alifantis, um garoto de sorriso amplo e longos cabelos, foi visto pela última vez conversando com dois homens jovens, numa praça a um quilômetro de casa, onde costumava jogar bola com amigos.
À noite, o pai dele, o empresário da área de transportes Anastassios Alifantis, recebeu telefonema exigindo a quantia milionária. Ele pediu ajuda a amigos e até reuniu uma importância significativa. Só que pediu prova de vida de Marcelo, num segundo telefonema, dia 11. E os sequestradores não voltaram a ligar.
A mobilização dos amigos da família chegou aos ouvidos de policiais civis e também da mídia, até porque amigos e colegas de aula do jovem começaram a fazer encontros pautados por rezas coletivas.
Pistas falsas e trotes
Passada uma semana do sequestro, a Polícia Civil e 25 policiais promoveram a busca a um cativeiro próximo à Ilha de Paquetá, junto ao Rio Gravataí. Era uma pista falsa.
Dez dias depois os familiares anunciaram que a polícia se retirara do caso, uma exigência inicial dos sequestradores. Mas os criminosos não voltaram a ligar. Os Alifantis chegaram a receber telefonemas, que se revelaram trotes de oportunistas dispostos a tentar ganhar dinheiro com a desgraça alheia.
Anastassios foi por pelo menos duas vezes a pontos indicados por pretensos sequestradores, mas ninguém apareceu.
Os meses foram passando, depois os anos. Em 1996, um presidiário contou a polícia ter se envolvido num suposto plano de sequestro do jovem. Queria, em troca, a liberdade. As informações dele, sobre um suposto envolvimento de familiares do jovem no sequestro, não foram confirmadas.
Policiais presos em 2002
Em maio de 2002, por fim, uma carta anônima recebida pela Corregedoria da Polícia Civil fez com que as investigações ganhassem novo impulso. Ela implicava sete pessoas no sequestro e suposto assassinato de Marcelo Alifantis. Entre elas, um delegado da Polícia Civil e dois inspetores (um, já expulso da corporação por envolvimento em assaltos). Conforme as informações colhidas, o menino teria sido morto a tiros por esse ex-policial após reconhecer, entre os autores do sequestro, um familiar seu.
Dos sete, seis tiveram a prisão temporária decretada (apenas o delegado, não). Um dos policiais civis, ainda na ativa, ficou foragido e concedeu entrevista exclusiva a Zero Hora, negando qualquer envolvimento no sequestro. Meses depois ele foi preso pela Polícia Federal por tráfico e cumpriu vários anos de condenação, sempre negando ter participado da morte de Marcelo Alifantis.
O caso sofreu nova reviravolta em abril de 2003, quando o próprio Ministério Públicou pediu o fim da prisão dos sete suspeitos, por concluir que as provas não eram suficientes para condená-los. E assim foi feito. A Justiça soltou os detidos e desde então o caso jamais foi reaberto pela Polícia Civil.
GZH localizou Anastassios Alifantis neste sábado (6). Ele mora no Paraná, ainda atuando com transportadora. Ele culpa a Polícia e a imprensa pela ampla divulgação do caso, quando o sequestro estava no início. Admitiu lembrar do aniversário do desaparecimento, a cada 7 de janeiro. E garante que não recebe mais pistas do filho desde os telefonemas, em 1994. Marcelo, se vivo estiver, hoje tem 44 anos de idade.