Em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, nesta segunda-feira (28), a secretária estadual da Saúde, Arita Bergmann, falou sobre as irregularidades no cumprimento de horários por parte de um grupo de médicos do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) em Porto Alegre. O descumprimento das escalas de trabalho foi flagrado por reportagem do Grupo de Investigação da RBS (GDI) que foi ao ar no domingo (27).
Para coibir a prática, Arita afirmou que serão instaladas câmeras de monitoramento nos locais de entrada e saída da central de atendimento da Samu na Capital. De acordo com a titular da Secretaria Estadual da Saúde (SES), contudo, ainda não há previsão para a instalação dos equipamentos.
— Alguns, por não serem responsáveis com o contrato de trabalho, acabam tendo que gerar um controle maior sobre os demais, que realizam o serviço de forma correta — lamentou a secretária.
A situação foi descoberta pelo GDI depois de acompanhar por dois meses a rotina de profissionais que atuam entre a noite e a madrugada na maior central de atendimento do Samu do Estado, que fica na capital gaúcha.
A reportagem teve acesso a relatórios de plantões, escalas de trabalho e extratos de atendimento de pelo menos três profissionais. A equipe confrontou os documentos com flagrantes de chegadas e saídas fora do horário estabelecido pelas escalas. A irregularidade foi confirmada pelo coordenador do serviço.
Reforçando nota divulgada pela SES, Arita disse que foi aberta uma sindicância para apurar o descumprimento dos horários e que, na última sexta-feira (25), funcionários já foram convocados a depor. A secretária afirmou ainda que será aberta uma auditoria para investigar se o sistema de escala dos colaboradores está adequada às diretrizes estabelecidas pelo Ministério da Saúde.
— Além disso, foi determinada que a direção-geral faça uma ordem de serviço rigorosa para o efetivo cumprimento das escalas de serviço — completou.
Central de chamados
No Rio Grande do Sul, são 269 municípios atendidos pela central de Porto Alegre, cobrindo 70% da população gaúcha. São 70 mil ligações por mês.
O sistema funciona da seguinte maneira: quando um morador de uma das cidades atendidas precisa de socorro do Samu e liga para o telefone 192, a ligação cai nesta central. Também é por aí que chegam os chamados de outras cidades que precisam transferir pacientes entre municípios por ambulâncias.
Inicialmente, um telefonista atende ao chamado, o que geralmente ocorre de forma rápida. Depois, a ligação vai para uma fila de espera para que os médicos reguladores prossigam no atendimento e, caso necessário, acionem as ambulâncias que vão prestar socorro. E é nessa etapa em que ocorreu a situação descoberta pelo GDI.
Durante a noite, madrugada e início da manhã, um grupo de médicos que deveriam estar disponíveis para atendimento das ligações não cumpre integralmente as jornadas de trabalho. Foi a indignação de um trabalhador diante desse cenário que gerou a informação ao GDI.
O enfermeiro Cleiton Felix compartilhou durante dois meses dados sobre a rotina de plantões incompletos. Segundo ele, médicos não aparecem para trabalhar ou, se dão expediente, cumprem apenas um terço da carga horária. No final de junho, Felix pediu exoneração.
— Nós da Secretaria de Saúde tomamos conhecimento do caso na quarta-feira (dia 23), por meio da matéria do GDI. Minha sensação, tanto como cidadã quanto como gestora, é de tristeza e indignação. Não compactuamos com quaisquer irregularidades na administração pública — enfatizou Arita.
Em tese, a central do Samu na Capital deveria ter 10 médicos atendendo simultaneamente em plantões de 12 horas no turno da noite, segundo o Ministério da Saúde informou em nota. A escala atual conta com sete profissionais, mas eles não trabalham simultaneamente, como comprovado pelo GDI durante três madrugadas acompanhando os plantões. Dentro deste período de 12 horas, por conta própria, os médicos se dividem e atuam por cerca de um terço do que deveriam.
A secretária alertou ainda que é possível que exonerações sejam pedidas nos próximos dias, o que pode influenciar na equipe disponível para atendimento.
— Temos 32 médicos em contrato emergencial e 32 do quadro efetivo, e não sei qual será a reação. Espero que aqueles que têm compromisso com o serviço público compareçam e cumpram o trabalho, e sei que a maioria o faz. O Samu é uma instituição que salva vidas, e faremos de tudo para que as instituições estejam em funcionamento para servir a população — garantiu.
Confira a entrevista na íntegra:
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