Profissionais que trabalharam com João Couto Neto, 46 anos, o descrevem como "uma gangorra de emoções". Por vezes, eloquente e agradável. Em outras, impaciente e agitado. Ninguém contesta sua capacidade de trabalho, ao ponto de ele realizar mais de 20 cirurgias num turno. O médico de Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, está sendo investigado pela Polícia Civil por suspeita de imperícia e negligência e está afastado das funções.
Em depoimentos prestados à Polícia Civil, algumas vítimas de cirurgias malsucedidas e familiares de pacientes que morreram relatam que o médico apresentava-se com estado de ânimo alterado. Relatam que, por vezes, ele era agressivo e intimidador, tanto pessoalmente quanto ao telefone. Outros apontam que ele não fazia uso adequado de equipamentos de higienização, como luvas, jaleco e máscara, atendendo os pacientes sujo de sangue.
Os colegas atribuem esse comportamento de Couto ao excesso de serviço. Ele se formou em Medicina pela Universidade Católica de Pelotas (UCPEL), em 2000, e se especializou em cirurgia geral, em 2003, pelo Hospital Nossa Senhora da Conceição, de Porto Alegre.
É membro da Sociedade Brasileira de Videocirurgia (Sobracil), do Colégio Brasileiro de Cirurgiões e da Sociedade Brasileira de Hérnia. Nas suas páginas da internet, se apresenta como especialista na realização de cirurgias do aparelho digestivo e aponta mais de uma dezena de técnicas para o trabalho. O cirurgião tem 15,9 mil seguidores no Instagram e 13 mil no Facebook.
Couto atua predominantemente por meio de convênios privados e para planos de saúde de algumas empresas estatais e mistas. Nestes mais de 20 anos ele afirma ter realizado mais de 20 mil cirurgias. É o que ele postou em uma página na internet, quando foi afastado das funções por 180 dias, em 12 de dezembro.
"Com responsabilidade e maturidade, nos sentimos confortáveis em afirmar que realizamos mais de 20 mil cirurgias e procedimentos durante os últimos 19 anos, cumprindo os mais elevados preceitos médicos, honrando esta profissão", diz trecho do seu comentário.
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Contraponto
O que diz a defesa de João Couto Neto
O advogado Brunno Lia Pires ressalta que não há unanimidade nas queixas contra o cirurgião. Ele listou pelo menos cinco pacientes que tecem elogios públicos ao médico. Diz que eles se colocam à disposição para defender Couto na Justiça, porque consideram que ele realizou um bom trabalho. Em nota, Lia Pires acrescenta:
"Em virtude de a defesa do dr. João Couto Neto não ter tido acesso à integralidade dos autos do inquérito, qualquer manifestação nesta hora seria precipitada. Importante frisar que será sim apresentada a versão do médico em momento oportuno, quando todos os documentos necessários tiverem sido aportados à investigação. A defesa tem plena certeza de que os fatos serão, com o tempo, devidamente esclarecidos, comprovando-se a completa correção nos procedimentos adotados pelo médico".