O padre Evair Heerdt Michels, da congregação Josefinos de Murialdo, se tornou réu em processo criminal por armazenar e transmitir imagens de sexo ou pornografia envolvendo criança ou adolescente. A Justiça aceitou denúncia do Ministério Público contra o religioso, que está afastado das funções na congregação desde o ano passado. O processo tramita na 6ª Vara Criminal de Porto Alegre.
Michels foi investigado pela Polícia Federal (PF), que encontrou milhares de arquivos de pornografia infantil em computador dele na casa paroquial em que morava. À época da operação, em janeiro de 2017, Michels era diretor do Colégio Murialdo de Porto Alegre e presidente da Associação Protetora da Infância, à qual pertence a escola. A congregação, que tem sede em Caxias do Sul, faz trabalho dedicado, especialmente, a crianças e adolescentes em situação de risco.
O padre chegou a usar tornozeleira eletrônica por determinação da Justiça Federal, que também o proibiu de se aproximar de crianças e adolescentes. A proibição segue valendo. A congregação o afastou das funções e o impediu de morar em comunidades religiosas até que o processo tenha uma solução.
Em julho do ano passado, reportagem do Grupo de Investigação da RBS (GDI) flagrou Michels desobedecendo a ordem judicial de ficar afastado de atividades envolvendo crianças e adolescentes.
O GDI registrou o padre, que usava tornozeleira eletrônica à época, abençoando crianças durante uma missa no distrito de Fazenda Souza, em Caxias do Sul. Ele já estava indiciado no inquérito da PF por possuir ou armazenar pornografia infantil. Depois disso, o casso passou da Justiça Federal para a Estadual.
A investigação da PF começou a partir de um comunicado emitido por uma ONG dos Estados Unidos sobre um suspeito que estaria armazenando e repassando arquivos de pornografia infantil de Porto Alegre para outros países.
A ONG, o Centro Nacional para Crianças Desaparecidas e Exploradas, detectou troca de e-mails contendo imagens de crianças expondo a genitália ou em cenas de sexo e avisou autoridades brasileiras. Ao investigar a conexão e o usuário, a PF chegou a Michels.
O MP afirmou que o padre transmitiu, por e-mail, arquivo com 20 imagens expondo crianças e adolescentes. Conforme a apuração, o e-mail foi enviado usando a internet disponível no Instituto Murialdo, escola que era dirigida em Porto Alegre por Michels. A acusação do MP também confirmou que o padre armazenava milhares de arquivos de cunho pornográfico envolvendo crianças e adolescentes. Entre o material apreendido, havia fotos de, pelo menos, duas ex-alunas de escolas da congregação, mas não em cenas de sexo.
Em depoimento à polícia, o religioso admitiu que usava dois endereços de e-mail para acessar material pornográfico infanto-juvenil e também que armazenava os arquivos. Depois, ele alegou que estava investigando o compartilhamento de imagens pornográficas de crianças e, por isso, armazenava o conteúdo para contribuir com denúncias que seriam entregues à polícia.
Contraponto
O que diz Juarez Aloysio Schmitz, advogado do padre Evair Michels:
"Tão logo termine o processo será comprovada a inocência do meu cliente diante das acusações. Meu cliente não mudou a versão inicial, só acrescentou informação. No primeiro depoimento, estava em pânico, sem saber o que dizer. Só respondeu o que perguntaram. Mas a PF não perguntou por que ele tinha aquela quantidade de material. E a resposta é que estava reunindo material para entregar para a polícia".