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A denúncia do MP de envolvimento de advogados em uma facção criminosa inclui, além de Minhoca, outro conhecido líder da organização Bala na Cara: Luís Fernando da Silva Soares Júnior, 39 anos, vulgo Júnior Perneta ou Museo. Foragido desde 2015, constava na lista de foragidos da Interpol quando foi preso, em maio deste ano, na cidade de Encarnación, no Paraguai.
Até prender Minhoca, em agosto de 2016, no Paraguai, a Delegacia de Capturas já tinha indicativos da participação de advogados na organização. O conteúdo armazenado no celular do criminoso, especialmente, em mensagens de texto, foi o reforço para desvendar o que seria o modus operandi dos advogados.
Na investigação, houve a contribuição de um delator, ex-integrante da facção, que prestou diversos depoimentos e está no programa de proteção à testemunha. Para o MP, Roza era o “líder” porque coordenar as ações dos outros dois defensores. Segundo a denúncia, Roza integrou a organização criminosa. Uma das conversas descobertas pelas autoridades tratava de informações sobre o juiz Felipe Keunecke. Segundo a denúncia, o interlocutor de Minhoca é Roza.
Em outro diálogo, o advogado, também identificado como Roza, pediria ajuda para silenciar testemunhas.
— Tem como chegar nessa mulher — questiona o advogado, completando:
— Daqui a pouco te mando o depoimento dela completo.
— Tá. Vou tentar ver – responde o foragido.
— Tá mole de liquidar (o processo) se ela calar a boca.
— Sim. Vamos ver.
Abaixo, confira a transcrição na íntegra.
— Kual e akele club ke tu vai (sic), na ilha do Guaíba, o nome do club? (sic) – questiona Minhoca, que, à época, estava foragido no Paraguai.
— União – responde Roza. Parece que o gremista vai lá (Keunecke é conhecido como o “juiz gremista”).
— Já vi umas três vezes lá, mas na sede de POA.
— Ele tem segurança?
— Nunca vi.
— Belesa. (sic)– Sí vi (sic) sozinho e com filho.
— Tô envestigando (sic) ele. Se ele condena ela (referência à companheira que responde a processo) de graça, vai paga caro.
— Jogo do Grêmio ele vai – sugere o advogado.
– Kero ve ce goverso vas traze a vida dele de volta (quero ver se o governador vai trazer a vida dele de volta) – ressalta Minhoca.
A mulher citada na conversa acima e outras duas testemunhas jamais foram localizadas pela Justiça para depor no processo em questão, assim como muitas outras pessoas que desistem de falar nas ações contra o grupo. Em troca de mensagens, em junho de 2016, Roza estaria encomendando um homicídio a subordinados de Minhoca.
— Queria ver um outro assunto contigo – escreve o interlocutor identificado como sendo o advogado, e prossegue:
— Tenho um parente que fez uma merda com uma mulher casada e o marido descobriu. Agora, tá ameaçando de matar ele. Como esse cara é muito maior, esse parente tá cagado. Tua gurizada faria esse serviço? E quanto sai?
— Depende. Ke ele ker fase (o que que ele quer fazer?) – diz Minhoca.
— Ele quer que o cara desapareça do mundo.
A investigação aponta também que Roza seria intermediador de “informações vitais para delitos perpetrados pelo grupo” e ajudaria a facção, inclusive, a encontrar desafetos jurados de morte.
“Seguidamente, o denunciado fornecia informações sobre a localização e paradeiro de integrantes de organizações rivais, viabilizando a pratica de homicídios e suas formas tentadas, para ampliação de território”, diz trecho da denúncia. Neste cenário de eliminação de adversários, a investigação apurou que os criminosos, com a ajuda de advogados, tentaram cooptar um médico para que ele matasse um rival do grupo dentro de um hospital, na Capital. Os dados do médico e de familiares foram vazados para criminosos. O crime não ocorreu.
Roza, que pediu apoio à OAB para ter acesso à investigação que tramita contra ele, nega as acusações. Mas quando Minhoca foi capturado no Paraguai, em conversa com outro integrante da facção, Roza demonstrou preocupação com o que poderia ser descoberto sobre a atuação dele a partir dos telefones do cliente criminoso.
Quando denunciou o grupo, o MP pediu a prisão dos advogados Roza e Rembowski, mas a Justiça negou. O MP recorreu.
— Bom dia, “Dotor” – diz membro da facção.
— E aí, tudo bem? Tô tentando falar com ele (com Minhoca) e não estou conseguindo. O “Dotor”, ele caiu (foi preso) lá.
— Puta que pariu. To indo comprar a passagem pra mãe dele voltar, e mãe dele tava lá.
— Puta, as mensagens que tô mandando. Tá tudo caindo no telefone dele, eles estão com tudo, o irmão falou.
— Pegaram com o telefone junto? Bah, “Dotor”, acho que pegaram com tudo lá, entendeu? – Bah, me f...! Será que ele apaga (as mensagens), cara? É muito difícil...
– Bah! Acho que até eu vou ser preso, tá louco.
Quem são os envolvidos
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Luís Fernando da Silva Soares Júnior, 39 anos, vulgo Júnior Perneta ou Museo.
Foi preso em 2014 pela Polícia Federal na Operação Bom Jesus, mesmo nome da vila onde se criou e se tornou líder da facção Bala na Cara. Investigação da PF indicava que o grupo dele comprava cocaína e armas no Paraguai e transportava a mercadoria ilícita em compartimentos ocultos adaptados em veículos. O principal ponto de ingresso no Brasil se dava por Foz do Iguaçu, fronteira com Ciudad del Este, no Paraguai. Posteriormente, a droga era comercializada em pontos de venda na Capital.
Acabou solto por engano em 2015, quando fugiu. Constava na lista de foragidos da Interpol quando foi preso, em maio deste ano, na cidade de Encarnación, no Paraguai. Investigado por sete homicídios, tinha cinco mandados de prisão contra si.
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José Dalvani Nunes Rodrigues, o Minhoca
Tem passagem pelo sistema prisional desde o ano 2000, quando foi recolhido pela primeira vez ao Presídio Central.
Tem antecedentes policiais pelos delitos de roubo (a motoristas e pedestres, com lesões), lesões corporais, ameaça, posse de entorpecentes, porte de arma de fogo (uso permitido e restrito), receptação, sequestro e cárcere privado, latrocínio, além de diversas ocorrências de tráfico de drogas e homicídios (tentados e consumados). Quando preso, ele foi apontado pelo envolvimento em pelo menos 25 homicídios. Desde 2000, foram expedidos 13 mandados de prisão contra Minhoca.
Foragido, foi preso em Ciudad del Este, no Paraguai, em agosto de 2016, e trazido para prisão em Charqueadas. Em março de 2017, foi transferido para o sistema prisional federal. Atualmente, responde a 68 processos por homicídios somente na 2ª Vara do Júri.