A denúncia do Ministério Público (MP) que apura ameaças a um juiz de Porto Alegre também descreve as ações dos outros dois advogados acusados de envolvimento com uma facção criminosa. Anderson Rembowski, 39 anos, foi definido como “pombo-correio”, porque seria o responsável por viajar para atender clientes foragidos ou presos em outros locais e a transmitir informações entre líderes e subordinados.
Em diálogo interceptado, chegou a dizer para um dos líderes da facção que juntos constituíam “família”. É atribuído a Rembowski o vazamento de informações pessoais de um médico e de familiares dele para que criminosos pudessem pressioná-lo a matar um desafeto do grupo. O alvo seria André da Silva Dutra, o Gordo Dé. O ataque deveria ocorrer durante uma internação de Gordo Dé no Hospital Vila Nova, na zona sul de Porto Alegre, mas não se concretizou.
Conforme a denúncia, Rembowski concorreu para a organização criminosa “servindo como condutor de informações ilícitas para continuidade dos delitos praticados pela facção, morte de pessoas, indução de depoimentos”. Até um contrato de negócio de compra de imóvel falso para tentar restituir valores teria sido feito pelo defensor da facção de Minhoca.
Anderson da Cruz, 41 anos, é o terceiro advogado acusado pelo MP. “Valendo-se de sua profissão de advogado, concorreu para organização criminosa servindo, da mesma forma, como condutor de informações entre integrantes da facção para continuidade dos delitos praticados”, diz trecho da denúncia a respeito de Cruz.
Segundo a apuração, ele auxiliava o colega Anderson Figueira da Roza a dificultar as ações do Estado contra o grupo.
Suspensos pela OAB
O Tribunal de Ética e Disciplina (TED) da OAB-RS está avaliando as acusações contra os advogados Anderson Figueira da Roza, Anderson Rembowski e Anderson Cruz na Operação Gângster.
Os três se tornaram réus por organização criminosa, suspeitos da prática de crimes junto à facção. Por ordem judicial, tiveram registros da OAB suspensos.
— Estamos acatando a suspensão judicial, pois as acusações são fortes, mas vamos fazer tramitar a suspensão interna – explicou o presidente do TED, César Souza.
O MP disse receber com perplexidade o envolvimento de advogados com o crime.
— Eles são exceção. Extrapolaram os limites da advocacia e passaram a praticar crimes, a integrar a organização criminosa — destacou o subprocurador-geral de Justiça para Assuntos Institucionais do MP, Marcelo Dornelles.
CONTRAPONTO
O que diz Jean Severo, advogado de Anderson Roza
Ele diz que o cliente é inocente.
— Estão faltando diálogos que podem fazer complementação de que Anderson não teve participação.
Anderson Rembowski não quis se manifestar. Anderson da Cruz não foi encontrado.
A INVESTIGAÇÃO
A denúncia da Operação Gângster é da Promotoria de Combate aos Crimes de Lavagem de Dinheiro e Organização Criminosa e foi assinada por sete promotores.
O trabalho do MP teve como base investigações iniciadas em 2016 pela Delegacia de Capturas, do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), e que visavam a localização de Minhoca, que estava foragido.
A Delegacia de Repressão aos Crimes de Lavagem de Dinheiro do Gabinete de Inteligência da Polícia Civil também atuou na investigação.