O presidente da Câmara de Vereadores de Guaíba, Renan dos Santos Pereira (PTB), concedeu entrevista em seu gabinete, na noite de 17 de abril, quase ao final da sessão da Casa. Antes de responder aos questionamentos, exigiu que fossem ouvidas algumas explicações por 30 minutos, dizendo que falaria sobre tudo que fosse perguntado.
Apesar do condicionador de ar da sala ligado em baixa temperatura, Renan suava. Em determinado momento, deu socos na mesa e encheu os olhos de lágrimas.
A seguir, trechos da entrevista de uma hora e 20 minutos.
1- Sobre a subcontratação de sua empresa
"Era coordenador da escala médica. Após 1º de janeiro de 2017, assumi como vereador e não poderia mais ser coordenador, mas continuei trabalhando como médico e recebendo apenas pelos meus plantões. Mesmo sendo em uma terceirizada, não vejo impedimento legal."
Nota de Redação: o TCE apontou que Renan estava na escala de julho de 2017 como coordenador médico do Gamp, com papel de destaque e influência na empresa e na antecessora Saudex, e que isso conflita com a função de vereador. A vedação está prevista na Constituição Federal e na Lei Orgânica de Guaíba
2- Sobre emissão de notas fiscais de serviços no valor de R$ 5,4 milhões
"Minha empresa dava as notas pelos médicos. Todos os meses, eu fazia uma nota, e eles (Beneficência) faziam uma TED para as contas de todos os médicos. Só estava ajudando. Se eu pegasse R$ 5 milhões e embolsasse, não estaria aqui."
Nota de GaúchaZH: documento enviado pela Beneficência à Comissão de Saúde da Câmara de Guaíba, informa que os pagamentos aos médicos eram feitos por meio da nota fiscal da pessoa jurídica de Renan.
3- Sobre a empresa estar baixada desde março de 2016
"Não fiquei sabendo. Eles (prefeitura de Bossoroca) baixaram a empresa, mas isso não me preocupa. Todo tempo depois de a empresa estar fechada, eu paguei PIS, Cofins. Se olhar na Receita Federal, a empresa está ativa."
4- Sobre cobrança de impostos municipais pela prefeitura
"Entrei com recurso, dizendo que quem tem de pagar o ISS é a Beneficência. São R$ 100 mil. Eu e meu advogado entendemos que quem tem de pagar todos impostos não sou eu. Se cair em mim, vou cobrar de todos os médicos."
5- Sobre pedido para prefeitura destinar verba da Câmara para pagar grupo de médicos do qual fazia parte
"Foi um pedido de 12 ou 13 vereadores para não tirar o segundo pediatra do turno da noite no Pronto Atendimento. Não me beneficiei, eu trabalhava de dia."
6- Sobre o certificado de pediatria
"Tenho especialização em pediatria. Eu tenho certificado de 4.032 mil horas, e sei que tem investigação em relação a essa faculdade (Facspar)."
7- Sobre supervisão do estágio
"Não lembro quem era. O estágio equivaleu às minhas horas em pediatria. Eu pegava papel timbrado para comprovar os plantões. A gente tinha aulas no Rio de Janeiro, um encontro a cada dois meses em um final de semana. Em 2015, fiquei uma semana sem dormir para fazer o TCC."
8- Sobre se candidatar em concursos como pediatra
"Se um edital cobra residência ou especialização, tu não está ludibriando. Não vou mais atuar como pediatra, enquanto não fizer a prova de especialista da Sociedade Brasileira de Pediatria."
9- Sobre processo criminal por mandar um familiar assumir como médico em seu lugar em Capão do Cipó
"A procuração era só para assumir o concurso para mim porque eu estava estressado e queria viajar. Consultei com uma médica, e ela provou que me atendeu. No processo consta que eu embarquei dia 6, mas tenho cópia da passagem aérea que foi dia 15. Vou ser absolvido."
10- Sobre atestados médicos para se ausentar de Fazenda Vilanova, que coincidiram com datas de atendimento a crianças em Guaíba
"Eu trabalhava só uma vez por semana em Fazenda Vila Nova. As três ou quatro vezes que eu estava de atestado, não trabalhei."
11 -Sobre fotos em rede social entregando cesta de páscoa em Guaíba no período dos atestados
Mas não estava de atestado. Todos os atestados eram só de um dia. Não vai ter atestados de 10 dias para Fazenda Vila Nova.
Nota de GaúchaZH: Sindicância da prefeitura de Fazenda Vila Nova apontou que Renan apresentou atestados entre 16 de março a 25 de março de 2016 (Sexta-feira Santa), e de 27 de março (domingo de Páscoa) a 31 de março de 2016, todos por motivo de pneunomia.
12- Sobre não declarar bens e os vídeos nos quais aparece dizendo ser rico e ter gastado U$ 9 mil em Miami
"Era do meu salário. Até 2015, viajei três vezes, uma para Europa e duas para Miami. Depois, vim morar em Guaíba e empobreci. A cobertura que eu moro a minha avó comprou."
13- Sobre contrato com empresa de vigilância a preço 80% acima do mercado
"Um funcionário concursado ligou para cinco empresas, fiquei com a de menor valor, R$ 39 mil. Eu abri pregão em dezembro e o processo aconteceu na primeira semana de fevereiro. O contrato era de seis meses ou até ficar pronta a licitação."
Nota de GaúchaZH: Em 15 de dezembro, Renan determinou a confecção do contrato 31/2017, assinado em 22 de dezembro. Em 28 de dezembro, ele foi alertado por vereadores de oposição de que os preços estavam acima do mercado, apresentando cópias de três orçamentos. Em 7 de janeiro, cópia do contrato 31/2017 foi encaminhada ao TCE. Em 1º de fevereiro, Renan abriu o edital do pregão eletrônico.
14- Sobre faltas nos plantões quando funcionário do Samu Estadual
Trabalhava 30 horas semanais. Não deu mais do que cinco atestados em um ano e meio.
15- Sobre suposto favorecimento a colegas da mesa diretora para evitar uma CPI
"Não confirmo. A CPI era sobre a Beneficência, de 2014 e 2015. Não pode abrir CPI, eu não era vereador naquela época. "
Nota de GaúchaZH: o pedido visava investigar contratos de Renan antes, durante e depois da eleição, e dispensa de licitação para contratar empresa de vigilância para a câmara.
16- Sobre a criação de cinco novos cargos com aumentos salariais de até 100% para aliados que o reelegeram presidente da Câmara
"São cargos necessários, de 30 horas e para fazer 40 horas, tem de dar portaria de 100% (de aumento). Tem 68 CCs na câmara, sabe quantos tem portaria? 15."
17- Sobre as denúncias em geral
"Perseguição política. Tem um grupo de quatro ou cinco vereadores que me detesta."