A Comissão Especial de Apuração do Conselho Deliberativo criada para investigar as inconsistências da gestão Vitorio Piffero anexará em seu relatório final a série de reportagens publicadas pelo Grupo de Investigação (GDI) da RBS nas edições de sexta-feira e do fim de semana de ZH, no site GaúchaZH e também levada ao ar na RBS TV. Conforme o presidente da Comissão, Ubaldo Alexandre Licks Flores, trata-se de uma "consistente apuração". A investigação feita pelo GDI aponta relações entre cinco empresas que receberam mais de R$ 10 milhões do clube por obras contestadas em diagnósticos produzidos pelas consultorias Baker Tilly Brasil e EY (antiga Ernst Young) a pedido, respectivamente, do Conselho Fiscal e da atual gestão do clube.
— Vou aproveitar o conteúdo produzido nessa investigação e que está nas páginas de Zero Hora. Colocarei no nosso expediente. É um material bem elucidativo — observou Ubaldo.
Procurador de Justiça, Ubaldo foi nomeado em outubro pelo Conselho Deliberativo para presidir comissão que investigaria os 12 apontamentos de supostas irregularidades da gestão Piffero. Esses apontamentos foram feitos por comissão anterior, presidida pelo conselheiro José Amarante e cujos trabalhos se desenrolaram no mês de setembro.
Entre essas supostas irregularidades, estão os recebimentos de total de R$ 9,9 milhões pelas empresas Keoma Construção Incorporação e Planejamento LTDA, Pier Serviços Eirell EPP, Estela Regina Rocha da Silva e Rejane Rosa de Bittencourt Eireli, além da Empresa Gaúcha de Estradas (Egel), que recebeu R$ 194.331,20 do Inter por serviços no Complexo Beira-Rio que não foram identificados pela consultoria Baker Tilly Brasil, conforme relatório ao qual o GDI teve acesso.
A Comissão Especial presidida por Ubaldo começará, na primeira semana de abril, a colher os depoimentos dos dirigentes envolvidos nas denúncias. Nesta semana, o grupo de sete conselheiros que integram a comissão fecham o quinto mês de trabalho. Depois de concluída a coleta de depoimentos, Ubaldo começará a produzir o relatório final das investigações. A sua previsão é de que o documento seja encaminhado à mesa do Conselho Deliberativo no começo de junho.
Conforme o novo regulamento do clube, as comissões podem executar trabalhos conclusivos. Ou seja, definir punições para os envolvidos nas eventuais irregularidades apontadas em seu relatório final. O novo regulamento está alinhado com as exigências da Lei 13.155, que instituiu o Profut – Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro, sancionada em agosto de 2015 pelo Palácio do Planalto.
Qualquer penalização aos envolvidos precisará passar por votação do CD
Ubaldo avisa que, a se confirmarem atos de gestão temerária pelos dirigentes, vai propor a penalidade prevista no Profut, que é a proibição, por 10 anos, de participar de qualquer entidade esportiva.
Em paralelo, as possíveis irregularidades que ferirem o código de conduta do Inter serão encaminhadas para apreciação do Conselho de Ética. Nesse órgão, as punições são ainda mais severas e podem variar, desde advertência até a exclusão do quadro associativo do clube.
Tanto no caso do relatório da Comissão Especial quanto da apreciação do Conselho de Ética, qualquer penalização aos envolvidos nas irregularidades precisará passar por votação no Conselho Deliberativo. O histórico recente, no entanto, sinaliza que dificilmente os dirigentes, caso sejam mesmo denunciados, sairão ilesos do crivo do Conselho. No ano passado, pela primeira vez em 108 anos de vida do clube, as contas de uma gestão foram reprovadas. Além disso, o relatório da primeira Comissão Especial foi encaminhado ao Ministério Público, que investiga na esfera criminal as supostas irregularidades cometidas no Beira-Rio na gestão Vitorio Piffero.