Um bolo envenenado com arsênio causou a morte de três pessoas em Torres, no Litoral Norte. O caso tem tido desdobramentos desde 23 de dezembro do último ano, quando o doce foi servido em uma reunião familiar.
Esse caso de Torres não é isolado. A reportagem de Zero Hora reuniu outras situações envolvendo envenenamentos que repercutiram no Brasil e no mundo.
Casos de envenenamento nos últimos anos
Três mortes em Torres
A Polícia Civil identificou a presença de arsênico em quantidade altíssima na farinha utilizada para fazer o bolo.
Deise Moura dos Anjos foi presa no domingo (5) e é apontada como principal suspeita de envenenar o produto. Ela seguirá detida preventivamente por mais 30 dias.
Deise é nora de Zeli dos Anjos, que fez o bolo e segue internada no Hospital Nossa Senhora dos Navegantes, em Torres.
Antes de morrer, as vítimas — duas irmãs e uma sobrinha de Zeli —apresentaram intoxicação alimentar grave.
As vítimas foram identificadas como Neuza Denize Silva dos Anjos, 65 anos, Maida Berenice Flores da Silva, 59, e Tatiana Denize Silva dos Anjos, 47.
Arroz com terbufós, no Piauí
Nove pessoas da mesma família buscaram atendimento médico no Hospital Estadual Dirceu Arcoverde (Heda), em Parnaíba, no Piauí, com quadro de intoxicação alimentar. Quatro deles morreram. Uma criança segue internada. Outros quatro receberam alta.
As vítimas apresentaram os primeiros sintomas no dia 1º de janeiro, um dia após consumirem peixes doados por um casal. Conforme as autoridades locais, foi descartado o envenenamento do alimento. Por outro lado, a presença de terbufós foi identificada no arroz produzido pela própria família.
O terbufós é uma substância presente no chumbinho, também encontrado em pesticidas e agrotóxicos. A investigação trabalha com a hipótese de que o componente químico tenha sido misturado ao arroz durante a madrugada de 1º de janeiro, já que o mesmo alimento já havia sido consumido anteriormente pela família.
Até o momento, quatro mortes foram confirmadas:
- Manoel Leandro da Silva, 18 anos
- Igno Davi da Silva, um ano e oito meses
- Lauane da Silva, três anos
- Francisca Maria, 32 anos (mãe de Lauane e Igno)
Uma criança de quatro anos, irmã de Laune e Igno, segue internada.
De acordo com o g1, Francisca era mãe de cinco filhos e quatro deles morreram por envenenamento.
Além dos dois que foram vítimas após comer o baião de dois — prato feito com arroz e feijão —, outros dois morreram depois de comerem cajus envenenados em agosto de 2024.
A suspeita da morte envolvendo os cajus envenenados está presa e foi denunciada por duplo homicídio qualificado.
Mãe e filho envenenados em Goiânia
Leonardo Pereira Alves, 58 anos, morreu em 17 de dezembro de 2023. Um dia depois, sua mãe, Luzia Tereza Alves, 86, também morreu.
No dia em que Leonardo faleceu, ambos foram internados no Hospital Santa Bárbara, em Goiânia, com quadro de dores abdominais, vômito e diarreia — sintomas característicos de intoxicação alimentar.
Ex-nora de Leonardo, Amanda Partata chegou a ser internada no mesmo dia, mas recebeu alta hospitalar horas depois.
Durante a manhã, Amanda acompanhou Leonardo e Luzia em uma famosa doceria da capital de Goiás, onde consumiram uma fatia de bolo. Inicialmente, o doce foi apontado como causador das mortes.
A hipótese de intoxicação alimentar devido ao consumo do bolo foi descartada dias após, quando a perícia realizada pela Polícia Civil não identificou resquícios de contaminação no lote do alimento.
A reviravolta no caso ocorreu no dia 20 de dezembro de 2023, quando Amanda foi presa como suspeita de envenenar Leonardo e Luzia.
— O caso é bem complexo, envolve um grau de psicopatia. O que nós adiantamos é que, de fato, se trata de um duplo homicídio por envenenamento — disse, à época, o delegado Carlos Alfama.
Conforme a Polícia Civil, Amanda morava em outro município e viajou até Goiânia.
Ela visitou Luzia e o ex-sogro, quando teria deixado produtos de café da manhã envenenados na casa da família. A motivação do crime teria sido a falta de aceitação de Amanda durante o relacionamento, que durou aproximadamente um mês e meio.
Segundo o g1, ela segue presa a Casa de Prisão Provisória, em Aparecida de Goiânia. O Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO) informou que a data do julgamento ainda não foi marcada. A reportagem não conseguiu contato com a defesa dela
Criança envenenada com sal nos Estados Unidos
Garnett Spears, cinco anos, morreu em 2014 em razão da alta quantidade de sódio presente em seu organismo. A Justiça dos Estados Unidos condenadou a mãe de Garnett, Lacey Spears, 27 anos, por envenenar o filho com sal.
Conforme as autoridades, Lacey criou um blog em que relatava "problemas de saúde do filho". Garnett era considerado saudável, mas foi induzido a uma série de internações hospitalares devido a ações da mãe, que, segundo a investigação, buscava atenção com a situação do filho.
Lacey provocou a morte do filho durante uma internação no Westchester Medical Center. Ela introduziu uma quantidade mortal de sal no tubo de alimentação de Garnett, que não resistiu. A mala de Lacey continha 69 pacotes de sal, conforme a investigação.
Em 2015, apesar de negar as acusações, ela foi condenada a 20 anos de prisão.
Polônio e a morte de um espião russo
Morto em 23 de novembro de 2006, Alexander Valterovich Litvinenko foi vítima de envenenamento por polônio — substância altamente radioativa e utilizada como fonte de raios alfa, cujo exposição pode ser similar a queimaduras solares.
O ex-espião russo que vivia em Londres, na Inglaterra, foi alvo de agentes do Serviço de Segurança Federal da Rússia (FSB, na sigla em inglês).
Conforme autoridades britânicas, Litvinenko foi envenenado por Andrei Lugovoi e Dmitry Kovtun. Ambos eram membros da FSB e entraram na Inglaterra com frascos de polônio sem serem descobertos pelas autoridades.
Identificados como possíveis parceiros de negócios com orientações sobre empresas para investir na Rússia, eles se encontraram com Litvinenko em 16 de outubro daquele ano. Eles misturaram polônio a uma xícara de chá do ex-espião russo durante uma reunião, mas ele não bebeu.
Apesar disso, em razão da exposição por inalar o elemento químico, naquele mesmo dia ele apresentou quadros de vômito. Em 6 de novembro foi internado repentinamente e três semanas depois morreu devido a hemorragias internas causadas pelo elemento.
Em 2011, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos culpou a Rússia pela morte de Litvinenko. O inquérito sugeriu que o presidente russo, Vladimir Putin deu aval para operação secreta.
A motivação seria as críticas de Litvinenko ao Kremelin, além de seu desligamento do serviço secreto.
Presidente da Ucrânia sobrevive a dioxina
Eleito presidente da Ucrânia entre 2005 e 2010, Viktor Yushchenko alega ter sido envenenado por adversário políticos às vésperas de sua eleição em dezembro de 2004. As acusações foram negadas por seus opositores.
Yuschchenko, 53 anos, teria sido exposto a tetraclorodibenzodioxina (TCDD), uma dioxina utilizada pelos Estados Unidos durante a Guerra do Vietnã. O composto químico pode causar alterações hepáticas, afetar o desenvolvimento dos sistemas nervoso e endócrino, resultando em uma série de problemas de saúde.
O ex-presidente ucraniano enfrentou uma série de deformações em seu rosto, que levou cerca de dois anos para voltar ao normal. Yuschchenko passou por mais de 20 cirurgias, mas sobreviveu.
A vitória do líder pró-Kremlin desencadeou a chamada Revolução Laranja, que culminou na anulação das eleições. Em novo pleito, Yushchenko se tornou presidente.
Ex-dono do Chelsea é vítima após negociações de paz com a Ucrânia
Outro caso famoso – e recente – de suposto envenenamento é do bilionário russo Roman Abramovich, ex-dono do clube de futebol britânico Chelsea. Ele apresentou sintomas de intoxicação durante negociações de paz na fronteira entre Ucrânia e Belarus em 2022.
Abramovich perdeu temporariamente a visão e sofreu problemas na pele. Ele não é adversário do regime de Putin, pelo contrário. Acredita-se que seja muito próximo do presidente Russo.
No caso, o ataque teria sido organizado por um setor contrário às negociações com a Ucrânia. Abramovich se recuperou e não teve sequelas.