Em ação conjunta, a Polícia Civil e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público (Gaeco) realizaram, neste sábado (8), em Palmares do Sul, Litoral Norte, apreensões de donativos que teriam sido desviados por políticos da região. Um vereador foi preso em flagrante e outro foi alvo de mandado de busca e apreensão, determinadas pela Justiça. O detido foi liberado mediante pagamento de fiança, no mesmo dia.
Essa é a segunda etapa de uma operação que começou no início desta semana. A ofensiva deste sábado tem como alvo dois políticos e um familiar de um deles. A investigação é conduzida pelos promotores de Justiça Mauro Rockenbach e Leonardo Rossi, além do delegado da Polícia Civil de Palmares do Sul, Antônio Ractz.
As autoridades não mencionam quem são os investigados, mas a reportagem apurou que o vereador preso é Filipe Lang, do PT e pré-candidato a prefeito de Palmares do Sul, pela oposição. A prisão em flagrante aconteceu porque foi encontrada na residência dele um revólver em situação irregular. Foram apreendidos também celulares e cerca de R$ 15 mil em dinheiro, com outro vereador investigado no episódio.
No início da semana foi apreendido um caminhão que teria sido utilizado por Lang para transportar donativos. Conforme apurado nas investigações, o vereador teria intermediado a distribuição de 18 toneladas de alimentos e roupas. Em vídeo, ele agradece à Secretaria Extraordinária pela Reconstrução do RS, pelos donativos.
- E já temos provas de que parte destes donativos foi encaminhada para famílias não flageladas pelas cheias, conforme planilhas apreendidas - diz o promotor Mauro Rockenbach.
Lang foi solto ainda no sábado (8), após pagar fiança.
As buscas deste sábado também atingiram outro vereador, Polon Backes de Oliveira, do União Brasil. Ele é pré-candidato a vice-prefeito na chapa encabeçada por Lang.
A maior parte do material foi encontrada no distrito de Quintão, em áreas não atingidas pelas cheias. Inclusive numa lancheria de propriedade de um familiar de um dos vereadores investigados.
O delegado Ractz ressalta que os donativos não passaram oficialmente pela prefeitura de Palmares, como deveria ter acontecido.
— A Polícia Civil está apurando crimes praticados para obtenção de donativos e desvio de finalidade na distribuição. São investigados três vereadores, pré-candidatos - resume Ractz.
Na operação deste sábado foram cumpridos 11 mandados de busca e apreensão na área central da cidade e também no balneário de Quintão, que pertence ao município. Outros municípios já sofreram buscas do mesmo tipo, pelo MP e Polícia Civil.
Já no início da semana uma outra ação conjunta do Gaeco e da Polícia Civil realizou buscas e apreensões na cidade. Na terça-feira (4), os alvos foram um vereador, sua companheira e um secretário municipal, todos da situação. O parlamentar é Manoel Antunes Neto, do PL. Na residência dele foram encontrados cinco cestas básicas que deveriam ser doadas pela Defesa Civil. Ele já é investigado por uso de conta bancária própria para receber benefícios destinados a pescadores. A companheira do vereador e o secretário municipal de Administração, Rodrigo Machado Martins, também sofreram buscas, mas nada incriminatório foi encontrado.
Os crimes pelos quais todos os suspeitos são investigados, nas duas etapas da ação em Palmares do Sul, são apropriação indébita, peculato, falsidade ideológica e associação criminosa.
Os investigados não foram localizados pela reportagem. Ao ser ouvido, o vereador Lang alegou que a arma apreendida (e que motivou sua prisão) é velha, presenteada por um avô. E que não foram encontrados com ele donativos - embora ele tenha repassado doações e divulgado isso em vídeo.
O vereador Polon alega que os R$ 15 mil apreendidos são honorários que recebeu como advogado.
Donativos deveriam ser distribuídos por igreja
O ministro extraordinário pela reconstrução do Rio Grande do Sul, Paulo Pimenta, confirma que a secretaria que chefia enviou as 18 toneladas de donativos para Palmares do Sul, mas para uma igreja, que deveria canalizar as doações para flagelados. Isso está registrado em documentos, encaminhados à Polícia Civil.
- Fomos informados agora que o nome da igreja foi usado para repassar esses donativos a lugares que parecem não ser os apropriados e sugerimos à Polícia Civil que investigue se houve desvio de objetivo - comenta Pimenta.