Numa repetição de frequência assustadora, o excesso de chuvas fez parte do Rio Grande do Sul submergir novamente ontem. Com mais de 300 milímetros de precipitação acumulada em menos de 24 horas, a nova investida da natureza arrastou pontes, rompeu estradas, alagou cidades e matou ao menos cinco pessoas, trazendo de volta a lembrança das enchentes que devastaram o Estado em setembro do ano passado.
Sob alerta vermelho do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o território gaúcho está em risco iminente de transbordamento de rios e desmoronamentos em cadeia. Até o final da tarde de desta terça-feira (30), 77 municípios haviam sido afetados, com 293 pessoas fora de casa – 198 estão em abrigos e outras 95, desalojadas. Segundo a Defesa Civil, havia seis feridos e 18 desaparecidos. A contabilidade do temporal registrava ainda 132 mil pontos sem luz, 32 mil sem água. Na madrugada desta quarta-feira (1º), são quase 40 rodovias interrompidas.
A BR-290, um dos principais corredores logísticos do Estado, teve cerca de seis metros de asfalto arrancados pela correnteza que se formou perto do acesso à Charqueadas. Em Santa Tereza, na Serra, uma ponte de concreto foi tragada pelo Arroio Barra Mansa enquanto a prefeita Gisele Caumo gravava vídeo orientando os moradores a evitar as estradas da região.
As enxurradas arrastaram para a morte dois homens que tentavam atravessar de carro regiões alagadiças, em Paverama, no Vale do Taquari. Na mesma região, uma mulher foi encontrada morta em decorrência de um deslizamento de terra em Encantado. Situação idêntica ao caso de Itaara, onde uma mulher morreu. Em Pantano Grande, uma descarga elétrica fulminou um homem que tentou desligar a energia de casa.
A chuvarada que castiga os gaúchos é resultado de bloqueio atmosférico que impede o avanço das frentes frias para fora do Estado. Dessa forma, as nuvens carregadas despejaram um aguaceiro desde Erechim, no norte, até Pelotas, no sul. Em alguns municípios caiu até três vezes mais água do céu do que o esperado para o mês inteiro.
Segredo, no Vale do Rio Pardo, havia registrado até a tarde 321,6 milímetros ante um volume histórico para abril de 140mm. Em Santa Maria, 219 mm de chuva – para uma média de 150mm – romperam três adutoras da Corsan, prejudicando o abastecimento de água. Também houve a queda de uma ponte na RS-287.
Informes da Agência Nacional das Águas mostram que o nível do Rio Taquari chegou a 20 metros, ultrapassando a cota de inundação e colocando sob risco cidades que ficaram submersas ano passado, como Muçum, Roca Sales, Encantado e Arroio do Meio.
O meteorologista Marcelo Schneider, do Inmet, disse ainda na segunda-feira, que “o pior está por vir”. Ele explica que a frente fria vai começar a se movimentar e a intensidade da chuva ficará até mais abrangente entre a tarde e noite de hoje e a madrugada de amanhã.
Chuva restante deve superar os 200 mm
Alerta vermelho emitido pela Defesa Civil prevê para os próximos dias uma combinação de chuva intensa, acima dos 200 mm, com ventos de até 80 quilômetros por hora numa faixa do Estado que abrange as regiões Metropolitana e Central, os vales do Caí, do Paranhana, do Taquari e do Sinos, a Campanha e a Fronteira Oeste.
— Teremos inundações e enxurradas de forma generalizada em todo o Estado. Sabemos que amanhã (hoje) é feriado, mas fazemos um apelo para que as pessoas evitem deslocamentos. Temos muitas regiões de encostas sofrendo com deslizamentos e rodovias interditadas — avisa o comandante da Defesa Civil, coronel Luciano Boeira.