O início da sangria do açude de Gargalheiras, na cidade de Acari, na região do Seridó do Rio Grande do Norte, foi celebrado pela população com fogos de artifício e orações na quarta-feira (3). O local serviu de cenário para as gravações do filme Bacurau, do diretor Kleber Mendonça Filho, em 2018.
A sangria ocorre quando o reservatório atinge sua capacidade máxima e transborda, o que havia acontecido pela última vez no Gargalheiras, um dos maiores do RN, em 2011. Os sertanejos esperavam ansiosos pelo início da queda do chamado "véu de noiva" — quando a água começa a descer ao longo de um paredão de 20 metros de altura —, que ainda não aconteceu. Mesmo assim, o início da sangria, por volta de 23h30min de quarta, foi celebrado por milhares de pessoas às margens do açude.
No ano passado, o Gargalheiras foi reconhecido como patrimônio cultural, histórico, geográfico, paisagístico, ambiental e turístico do RN. Até mesmo o diretor de Bacurau celebrou a sangria.
Por que transbordo é comemorado
Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o pesquisador Francisco Augusto Cruz de Araújo fez uma série de publicações no X (antigo Twitter) em que explica por que a sangria do açude é tão celebrada. Ele retoma o contexto histórico de escassez de água no sertão, e consequente valorização deste recurso, reforçando a importância de reservatórios como o Gargalheiras, projetado ainda na primeira década do século 20, mas entregue somente em 1959.
"Ao longo de sua história, as chuvas só conseguiram fazer o Açude Gargalheiras sangrar 30 vezes. A espera é lenta, a fé de boas chuvas a cada ano se renova quando o reservatório permite a sobrevivência de animais, alguma pesca e água para pequenos agricultores", conta Araújo, na publicação.