O operário Gabriel Oliveira Netto, 28 anos, morto em acidente de trabalho em Capão da Canoa, no Litoral Norte, na segunda-feira (8) não possuía treinamento e capacitação para operar o elevador de carga, aponta o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). A estrutura se desprendeu do prédio em obras e desabou do último pavimento, provocando a morte do trabalhador.
Além de acompanhar a investigação das causas, o MTE quer descobrir o motivo pelo qual Netto, que não tinha o treinamento, estava operando o elevador. A norma regulamentadora 18, que estabelece regras de segurança e saúde na indústria da construção prevê que, para manusear elevador de carga, é necessário um treinamento inicial de 16 horas e mais quatro horas anualmente. Gabriel estava há uma semana na obra e iria começar a trabalhar em um bar no dia do acidente, como segundo emprego.
— Pelas informações obtidas até o momento, o trabalhador não tinha capacitação. A norma 18 exige um treinamento básico de segurança do trabalho, que é de quatro horas, quando a pessoa é admitida e entra no canteiro de obras, essas empresas têm uma assessoria em segurança do trabalho que dão esse treinamento básico. Para operar o elevador, a norma exige uma capacitação de 16 horas. Infelizmente esse trabalhador não tinha essa capacitação — confirmou o auditor-fiscal do trabalho, Lúcio Debarba, que também é engenheiro de segurança do trabalho.
Apesar da falta de treinamento, o auditor aponta que mecanismos de segurança deveriam impedir um acidente.
— Não quero dizer que isso seja a causa do acidente, o fato de não ter a capacitação. Poderia dar tudo errado e o elevador simplesmente parar, bater no fim de curso. Ou na pior hipótese ele passar a cremalheira e ficar preso no último módulo, mas cabine não ia cair. A queda da cabine foi pelo rompimento da estrutura de ancoragem — avaliou.
O sistema de ancoragem do elevador é responsável por fixar o equipamento junto à estrutura da obra. A hipótese de que ocorreu essa ruptura é corroborada pelos sinais de oxidação e solda encontradas no elevador, além da forma como que ocorreu a queda, com o equipamento tombando junto com a torre.
O material está com o Departamento de Engenharia do Instituto-Geral de Perícias, que analisa eventuais pontos de corrosão da estrutura, exames sobre os pontos de solda dos metais e análises sobre a manutenção preventiva do equipamento.
Ouvido no dia o acidente, o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (CREA) informou que o órgão acompanhava a obra e visitou o local em mais de uma ocasião no último ano, sem constatar irregularidades na construção. O CREA vai aguardar o resultado da perícia para avaliar se houve negligência relacionada ao elevador.
Contraponto
Questionada por GZH sobre a ausência de capacitação do operário e possíveis falhas na estrutura, a PV Incorporadora, responsável pela obra, informou que "Estamos aguardando a perícia junto com as autoridades. Nossa prioridade é apoiar a família e principalmente estar à disposição das autoridades para qualquer documentação que eles possam solicitar. Assim que tivermos as informações oficiais , a gente vai passar"