A chuva não dá trégua em Caraá, no Litoral Norte. No dia em que completa quatro meses desde que um ciclone matou cinco pessoas, destruiu casas, pontes e empresas, e arrastou carros, a instabilidade voltou a atingir a cidade. No município, 40% dos acessos e serviços ainda são provisórios.
As condições climáticas nestes 120 dias têm sido um dos principais adversários a serem enfrentados. Segundo cálculo da prefeitura, os prejuízos chegam a R$ 500 milhões. Somente na agricultura, as perdas passaram de R$ 20 milhões.
— Tivemos de fazer acessos provisórios para dar passagens em comunidades atingidas. Toda chuva de maior volume temos de refazer o trabalho para restabelecer passagens — destaca o prefeito Magdiel Silva.
A passagem do ciclone também atingiu 69 pontes. Desse total, 12 foram destruídas e 57 ficaram parcialmente comprometidas. Na semana passada, o governo do Estado anunciou R$ 2,5 milhões para a reconstrução da ponte sobre o Arroio Carvalho, principal acesso para a cidade. Mas esse valor não é suficiente para toda a obra e a prefeitura segue aguardando complementação de recurso do governo federal.
— O município não possui uma grande arrecadação própria e não tem condições nenhuma de fazer alguma obra estruturante. Dependemos dos governo do Estado e federal — avalia o prefeito.
Residências destruídas
Com o ciclone, 50 residências foram destruídas. Famílias aguardam, abrigadas em casas de amigos, vizinhos ou parentes, a reconstrução das suas moradias. Em setembro a prefeitura conseguiu encaminhar para o governo federal o pedido de ajuda para erguer habitações de 47 metros quadrados. A expectativa é de que a verba chegue até o fim do ano, para que as obras possam ser realizadas em seis meses.
Na rede escolar, 11 crianças não conseguiram voltar para a sala de aula, e acompanham as atividades de forma remota, porque o ônibus não consegue chegar onde elas moram.
Uma das empresas atingidas com o ciclone de junho foi a FR Calçados. A enchente levou embora 5 mil pares de calçados. Foram 10 dias de limpeza para que fosse possível retomar a produção.
— Muita coisa se recuperou. Começamos com uma produção baixa no primeiro mês, mas, desde julho, conseguimos retomar os pedidos — comemora o programador de calçados, Zenauro Ferreira da Silva, que atua há sete anos na empresa.
Cemitério
O cemitério da comunidade do Rio dos Sinos e a Igreja Nossa Senhora do Rosário, mantidos pela comunidade, também foram invadidos pela água, que atingiu dois metros. Hoje, parte do que foi destruído já foi recuperado. A igreja, o salão de festas e a capela já foram reabertos. Falta ainda finalizar os reparos no cemitério e na pracinha próxima.
— No dia 8, fizemos a festa da nossa padroeira. Com o lucro que tivemos, mais as doações que estamos obtendo, vamos nos recuperar — projeta o presidente da comissão da comunidade Igreja Nossa Senhora do Rosário, Wagner Sauner.
A Unidade Básica de Saúde (UBS) do Rio dos Sinos, segue atendendo apenas 50% da sua capacidade. Na semana passada, o governo do RS anunciou investimento de R$ 485 mil. Enquanto a obra não começa, os moradores precisam buscar no outro posto, distante cinco quilômetros de distância.