O ciclone extratropical que atingiu parte do Rio Grande do Sul na semana passada ainda causa transtornos no Vale do Sinos, em função da cheia do rio que dá nome à região. Embora em declínio, o nível do rio segue alto nesta segunda-feira (17), principalmente em Campo Bom, a 57 quilômetros de Porto Alegre, onde a medição da tarde ainda apontava 7m24cm (o nível normal é de 2,4 metros)
A cheia chegou a causar a suspensão das aulas na Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Princesa Isabel e na creche Princesinha, localizada na Rua Mathias Muller, que ficou embaixo d'água. A via fica no bairro Barrinha, onde os esforços da Defesa Civil foram concentrados. A interrupção das atividades nessas duas instituições de ensino permanecerá até, pelo menos, terça-feira (18) pela manhã.
Durante a tarde, moradores eram transportados de retroescavadeira das casas deles até pontos com menos água. Algumas pessoas receberam atestados da Defesa Civil para se ausentarem do trabalho nesta segunda, por impossibilidade de locomoção.
Treze moradores chegaram a ser encaminhados para o ginásio municipal de Campo Bom. O local serviu de abrigo para quem foi afetado pela enchente. Entretanto, segundo a Defesa Civil, somente duas famílias tiveram as casas invadidas pela água e precisaram ser encaminhadas até o abrigo. O restante dos acolhidos eram pessoas que precisavam de atendimento médico e foram ao ginásio para ter acesso aos serviços de saúde. O foco, agora, é reunir donativos para quem foi atingido.
— A gente precisa de alimentos, material de higiene pessoal, material de limpeza em geral, porque, depois que as pessoas voltarem para as suas casas, elas terão de limpar os pátios, mesmo que a água não tenha entrado nas casas, vai ter muito material para retirar. As doações podem ser levadas até o próprio ginásio municipal — explica o coordenador da Defesa Civil de Campo Bom, Paulo Silveira.
Casas mais altas para evitar a perda de bens
Quem mora próximo ao Rio dos Sinos diz já estar acostumado com as inundações. Para tentar evitar as perdas de roupas e móveis, é necessário até mesmo construir as casas de forma diferenciada, como conta a dona de casa Ana Paula da Silva, 36 anos.
— Nós fizemos uma casa nova bem alta, já por causa disso. Mas na casa da minha irmã, da outra vez que teve cheia, ela perdeu um monte de coisas, até as camas das crianças, mesmo erguendo tudo do chão — relata a moradora da Rua Mathias Muller.
Outro município que também registrou alagamentos foi Novo Hamburgo. Moradores das margens da Avenida dos Municípios, próximo à divisa com Campo Bom, tiveram casas inundadas.
Com o nível do rio em elevação, a recicladora Luana Costa, 29, precisou montar uma barraca na beira da estrada para fugir da água. Na tarde desta segunda-feira, ela contabilizava os estragos em frente à casa. Móveis, roupas, alimentos e até os brinquedos das crianças foram perdidos. Os dois temporais em sequência — um em meados de junho e outro na semana passada — aumentaram os prejuízos.
—Isso é corriqueiro. No inverno, sempre acontece. Aí a gente sai de casa, não tem o que fazer. Essa última (cheia de junho) que entrou dentro de casa, deu meia parede. Isso que minha casa já é alta. Estava tudo erguido, mas a gente perdeu tudo. Aos pouquinhos a gente tá conseguindo de novo, com doações, de amigos e de quem passa na faixa — desabafa.
Tendência de baixa
De acordo o coordenador da Defesa Civil de Campo Bom, Paulo Silveira, o Rio dos Sinos chegou a 7m34cm no município e tem baixado nas últimas horas. A tendência segue pelos próximos dias. Porém, o rio ainda pode seguir em elevação em São Leopoldo e Novo Hamburgo, antes de estabilizar também nestes municípios. Silveira acredita que o nível do rio só vai normalizar no fim desta semana.
Em São Leopoldo, por exemplo, segundo boletim das 17h da Defesa Civil, o Rio dos Sinos estava com 4m97cm e subindo um centímetro por hora, em média. O município está em alerta, com pontos de alagamento, principalmente, na Rua da Praia e na Rua das Camélias.