Quando a tempestade provocada pelo ciclone extratropical que atingiu o Rio Grande do Sul no mês passado chegou a Caraá, no Litoral Norte, na noite daquele 15 de junho, Nery Gomes de Castro, 89 anos, abrigou-se com a esposa, Althayr Martins de Castro, 84, em cima de uma mesa. Durante seis horas, o casal assistiu à água levar tudo o que tinha, de móveis e utilitários domésticos à plantação e aos animais. Em especial, a perda de um item pessoal tomado pela enxurrada aflige a família: o aparelho auditivo de Nery, que havia sido doado ao idoso, que há mais de cinco anos enfrenta dificuldades para escutar.
Ainda lidando com os estragos deixados pelo fenômeno, o casal, que nos dias seguintes ao temporal foi acolhido na casa de vizinhos e recebeu alimentos da Defesa Civil, está mobilizado na reconstrução do lar, tentando recuperar peças mais urgentes para viver — como cama, fogão e geladeira. Sem folga no orçamento, contudo, a família, que sobrevive das aposentadorias e da venda dos produtos da plantação, assolada pelo episódio meteorológico, não tem condições de pagar por um novo dispositivo, orçado no valor de R$ 9 mil.
— Meu avô escuta pouquíssimo e está sendo difícil para ele não conseguir se comunicar bem com as pessoas, ainda mais nesse momento em que eles buscam ajuda — assinala o neto Maurício de Castro, 33 anos.
É possível ajudar com doações financeiras ou com o próprio aparelho de audição (modelo Ke388, da marca Resound). Móveis, eletrodomésticos e alimentos também são bem-vindos. Quem quiser contribuir pode entrar em contato com Maurício pelo telefone (51) 98480-4647.
O temporal
Caraá foi um dos municípios mais atingidos pelo ciclone. Das 16 mortes em decorrência do temporal no Estado, cinco foram na cidade.
Passadas três semanas da tragédia, o local ainda tem entre 150 e 200 pessoas fora de suas residências, sem perspectiva de retomarem suas rotinas. Essas famílias perderam seus imóveis e vivem na casa de amigos ou parentes.
Com previsão de um novo fenômeno a partir de sexta-feira (7), a população de Caraá volta a se preocupar com novas perdas.
— A comunidade está traumatizada ainda, e claro que vai ficar. Para uma próxima eventualidade climática já estaremos melhores preparados. Estamos monitorando as condições climáticas com a Defesa Civil — disse o prefeito Magdiel Silva em reportagem publicada em GZH na terça-feira (4).
*Produção: Júlia Ozorio