Com a possibilidade da atuação de um novo ciclone extratropical na costa gaúcha neste fim de semana, os órgãos estaduais e municipais já se preparam para o novo evento climático. A previsão é de que o fenômeno ocorra com menor intensidade do que o evento de 16 de junho, quando a chuva assolou dezenas de cidades, sobretudo do Litoral Norte e da Região Metropolitana, deixando 16 pessoas mortas. Por esse motivo, os municípios estão mais otimistas, mas ressaltam que é preciso ter cautela, já que ainda aguardam posicionamentos dos órgãos oficiais sobre o fenômeno e como proceder.
A Sala de Situação da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) do RS, referência no monitoramento e previsão das condições hidrometeorológicas do Estado, confirma a formação de um ciclone extratropical. Até o momento, a previsão é de chuva forte e persistente na sexta-feira (7). Na madrugada de sábado (8), terá origem o ciclone, próximo à costa gaúcha.
Isso intensificará a chuva trazida por uma frente fria, com cerca de 80 a 120mm, e, em alguns pontos, 150mm — um volume menor do que o do último ciclone, que chegou a 300mm, segundo Vanessa Gehm, meteorologista da Sala de Situação. As rajadas de vento também se intensificam, com cerca de 70 a 90 km/h, como da última vez.
— Por enquanto, a previsão é de chuva intensa e volumosa, trazendo alguns transtornos, mas, mais próximo, com a intensificação das chuvas, se avalia a necessidade de um alerta mais preventivo, algumas horas antes — explica Vanessa.
O órgão reforça a importância da população se cadastrar para receber os alertas por SMS, informando seu CEP pelo número 40199, ou por WhatsApp, além de continuar acompanhando as atualizações.
Também não há ainda um alerta oficial do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Por outro lado, de acordo com o órgão, o que se observa, no momento, é um fenômeno meteorológico afastado do Brasil, no extremo sul da América do Sul, em direção ao oceano.
— Há indício de que pode se formar um centro de baixa pressão. Pode ter algo mais para o final de semana, e a gente verá como ficará o início da semana. Vamos ficar monitorando para ver se realmente terá condições de se formar um ciclone extratropical, mas não tem nada de certeza ainda — frisa Mamedes Luiz Melo, meteorologista do Inmet.
Até sexta-feira, o instituto deve ter informações mais precisas sobre a condição meteorológica. Se na sexta for verificado que essa condição deve se confirmar, o Inmet emitirá um alerta. Contudo, se o grau de confiabilidade permanecer baixo, a divulgação de informações será postergada.
Por sua vez, a Defesa Civil estadual informa que já está atuando no monitoramento da evolução da previsão meteorológica, por meio de seu Centro de Operações (Codec) e da Sala de Situação do Estado. Também já está articulando com os municípios, responsáveis pelo primeiro atendimento, eventuais ações de prevenção que minimizem os riscos para populações, especialmente aquelas que vivem em maior vulnerabilidade.
"Quando o município não consegue oferecer uma resposta razoável, a Defesa Civil estadual atua de maneira complementar nas ações, que podem ir desde a coordenação dos órgãos públicos em ações de socorro até iniciativas de ajuda humanitária", afirma, em nota. O órgão acrescenta que as estruturas públicas que podem oferecer apoio em caso de um desastre também estão atentas ao acionamento e apoio.
A Defesa Civil acrescenta que está em situação de atenção, acompanhando e compartilhando informações sobre a previsão do alto volume de precipitação. Se for identificada uma situação de risco, será emitido um alerta às prefeituras e aos cidadãos.
Municípios atingidos
Caraá
Um dos municípios mais atingidos pela tragédia do último ciclone que passou pelo Rio Grande do Sul, Caraá se preocupa agora com a questão da locomoção, visto que a maioria das previsões menciona um novo ciclone com menor intensidade. Conforme Augusto Borges, coordenador da Defesa Civil de Caraá, muitos acessos a localidades foram feitos de forma precária nas últimas semanas — alguns, inclusive, passando por cursos de água. Portanto, a preocupação é a de que eventuais chuvas com intensidade elevada voltem a danificar essas reconstruções, que precisarão ser corrigidas.
O coordenador da Defesa Civil acredita ainda que o município não voltará a enfrentar problemas em relação a desabrigados e desalojados. Isso se deve ao fato de que as pessoas que estavam mais próximas ao rio e sofreram os efeitos do último ciclone ainda não tiveram condições de retornar às suas casas. Desta forma, elas permanecem alojadas em locais seguros, com amigos ou familiares.
— Claro, temos toda a questão de abrigo já preparada, porque foi utilizado há pouco tempo. Temos ajuda humanitária disponível ainda, porque recebemos muito e ainda não distribuímos tudo, e voluntários já cadastrados e identificados. Se eventualmente precisarmos de estrutura de apoio, já temos ela montada. A questão que tivemos dia 16, de improvisação do apoio imediato, não acontece novamente — assegura Borges.
O município também aguarda a manifestação dos órgãos oficiais e acompanha os boletins informativos para avaliar o grau de intervenção que será necessário nos aspectos de prevenção.
— É importante ter bastante calma e olhar as coisas com um pouco de otimismo. Vamos aguardar e ter a certeza de que estamos agindo com todas as informações necessárias para que, em qualquer eventual problema, a gente disponha de meios para poder ajudar — esclarece.
São Leopoldo
Em São Leopoldo, duas pessoas morreram durante o último ciclone. A cidade ainda trabalha na limpeza e na recuperação dos prejuízos, que incluem pontes destruídas.
— Ainda estamos naquela situação, assim como várias famílias, que perderam muitos dos seus pertences e não se recuperaram ainda — pontua Nelson Spolaor, secretário geral de Governo.
A prefeitura informa que mantém um processo de monitoramento diário da situação. A Defesa Civil municipal está em contato e aguarda um posicionamento formal do órgão estadual e da Sala de Situação para ter segurança sobre o diagnóstico do próximo fim de semana. Há também um comitê constituído entre as secretarias do governo e outros órgãos, como o Corpo de Bombeiros, com protocolos e espaços definidos, além de vigilância permanente. Quando esse tipo de situação ocorre, o processo de acompanhamento se acentua ainda mais, explica o secretário.
— Vamos nos guiar, aguardar e torcer para que a Sala de Situação tenha melhor precisão, e não tenha, de fato, maiores riscos — pontua Spolaor.
Porto Alegre
Na Capital, a Defesa Civil do município acompanha as informações sobre o evento meteorológico e espera ter uma maior certeza sobre sua ocorrência até quinta-feira (6). Em paralelo, a preparação das equipes que fazem parte da Comissão Permanente de Atuação em Emergências (Copae) continua. Coordenada pela Defesa Civil, a Copae tem por objetivo diminuir o tempo de resposta à comunidade atingida e aumentar a eficiência de ações que dependem da integração entre órgãos.