Às margens do Rio dos Sinos — que provocou enchentes e também mortes em outras cidades gaúchas —, moradores do bairro Empresa, em Taquara, no Vale do Paranhana, foram vitimados por uma cheia sem precedentes.
— Há 10 anos deu uma grande e chegou aqui, mas nunca tinha subido tanto — conta o aposentado Luis Flor Bernardo, 70 anos.
Nesta quarta-feira (21), com o rio baixando, moradores começaram a retornar para casa e a contabilizar prejuízos. Móveis, colchões e entulhos eram descartados em frente às moradias.
— Só nessa rua aqui foram 15 carregamentos — diz o motorista de um caminhão de lixo sobre o trabalho na Rua Buenos Aires, com 350 metros de extensão.
Moradora da Rua Lima, a aposentada Lourdes de Oliveira, 64, diz que mora há 30 anos no mesmo local. Afirma ter sido a maior enxurrada que presenciou.
— Já vi três grandes assim, a última há 10 anos (cheia de 2013), só que desta vez foi muito rápido. Nas outras, ela veio aos poucos — conta a aposentada, que só não perdeu os pertences por ter construído a casa a cerca de um metro de altura do chão.
Nunca veio tão rápido, diz coordenador da Defesa Civil
Além do volume e do nível mais alto, a velocidade com que a água subiu atrapalhou no socorro às famílias. A chuva mais intensa na região da nascente do rio, em Caraá, foi na noite da última quinta-feira (15). Na tarde de sexta (16), o Sinos começou a subir em Taquara e atingiu ápice no sábado (17) pela manhã.
— Ela sempre veio, mas veio devagar. Sempre deu aquele tempo de remover as famílias. Desta vez, em 15 minutos já ficava três vezes do que tinha iniciado — explica Alessandro Santos, coordenador da Defesa Civil municipal.
Ao todo, o município teve 6.559 desalojados, em casa de amigos e parentes, e 162 desabrigados, que foram acolhidos no ginásio municipal, segundo balanço divulgado pela Defesa Civil estadual na terça-feira (20).
Entulhos viram fonte de renda para recicladores
O terreno improvisado para descartar entulhos descartados por vítimas da enchente, em Taquara, era vasculhado por recicladores na manhã desta quarta-feira. Os materiais foram descartados principalmente por moradores que começaram a voltar para casa com a baixa do Rio dos Sinos, no bairro Empresa, e recolhidos por caminhões da prefeitura.
O que se tornou inservível para uns foi visto como fonte de renda para recicladores. Famílias buscavam por eletrodomésticos estragados para tirar a sucata e revender.
— Foi muito triste, as pessoas perderam tudo. Já encontrei máquina de lavar, fogão, panela. Tudo que não funciona, mas a gente pode aproveitar o alumínio — disse Ana Paula Santos Reis, 46 anos.
Em meio aos materiais, roupas encharcadas foram encontradas e coletadas. As que ainda estavam sujas, mas em condições de uso, foram separadas. Comida também foi encontrada, mas não pôde ser aproveitada.
— Era um monte de arroz, mas tudo molhado. Não dava pra comer, uma pena — lamentou Ana.