Entre as cenas que ficaram após a passagem do ciclone extratropical que arrasou cidades do Rio Grande do Sul na última sexta-feira (16), imagens de homens e mulheres empenhados no resgate daquilo que foi arrastado pela correnteza são as que mais emocionam. Entre eles, voluntários que se dedicam em recuperar animais que se perderam dos seus donos.
As equipes fazem parte do Grupo de Resgate de Animais em Desastres, o Grad, que se desloca por todo o país para ajudar bichos e seus tutores em casos de tragédias naturais.
Oito membros do grupo desembarcaram no último sábado (17) no Rio Grande do Sul para prestar suporte aos animais e aos seus protetores. A primeira parada foi em Cachoeirinha, na Região Metropolitana. Depois, passaram por Maquiné, Caraá, e, nesta terça-feira (20), se dirigiam para Lindolfo Collor antes de cumprir roteiro em localidades de municípios como São Leopoldo e Ivoti.
Voluntário vindo de Florianópolis, em Santa Catarina, para ajudar nos resgates, o médico veterinário Diego Barrey descreve ter visto rastro destruição desde que chegou ao Estado no fim de semana.
— Desde o ciclone, temos conversado bastante com os moradores, que têm relatado que a água subiu muito rápido. Algumas dessas pessoas conseguiram evadir, porém, alguns animais ficaram para trás devido à velocidade da água subindo. Tendo em vista esses relatos, vimos que teve muita perda animal. Muita, mesmo — relata Barrey.
O voluntário diz que o quadro severo dificulta quantificar o estrago em números. Mas há uma estimativa de que, desde sexta-feira, cerca de 500 animais tenham sido impactados, entre atingidos e resgatados.
Passado o momento mais crítico do fenômeno climático que devastou as cidades, o trabalho dos voluntários se concentra nas ações de pós-desastre, explica a gaúcha Thamys Trindade, que mora em São Paulo e atua como auxiliar de campo do Grad. Principalmente porque quando a equipe desembarcou, a maior parte dos atingidos já estava nos abrigos.
A tarefa é de pesquisa. Os voluntários fazem sondagens junto aos desabrigados para saber quem tinha animais de estimação. Também adotam os protocolos sanitários necessários nos animais que puderam ser resgatados. O procedimento inclui aplicação de medicamentos como vermífugos e vacinas. Em caso de necessidade, os animais são internados.
— Tem a ação no desastre e no pós-desastre, que é ir aos abrigos e ver a necessidade das pessoas atingidas. Nossa ideia é a saúde única: meio ambiente, animais e seres humanos em harmonia — explica Thamys sobre a importância de atentar à questão sanitária, principalmente em relação às doenças que a água das enchentes pode carregar.
A articulação dos voluntários começa de forma antecipada. Antes de viajar aos locais afetados, o grupo mantém vigilância permanente aos informes das Defesas Civis regionais sobre a possibilidade de desastres. Foi assim no caso do ciclone extratropical que atingiu o RS.
— Vimos que ia acontecer e já nos mobilizamos via Whatsapp para mapear quem teria disponibilidade imediata de atuação. É um trabalho muito puxado, os voluntários de cada equipe ficam a postos de sete a 10 dias e então há uma troca, até pelo desgaste emocional. A gente lida com muita tristeza, principalmente das famílias que se apegam aos animais — diz Thamys.
Criado há pouco mais de 10 anos, em Minas Gerais, o Grad tem atuação nacional e foi expandindo a cada tragédia. Desde a formação, já atuaram em catástrofes que marcaram a história do país como os desastres em Brumadinho e Mariana, em Minas Gerais, deslizamentos no litoral de São Paulo, em Petrópolis, no Rio de Janeiro, e também na enchente mais recente que atingiu Santa Catarina.
Atualmente, são mais de 50 profissionais de 15 Estados, de áreas diversas de atuação, participando do grupo. Médicos veterinários, biólogos, zootecnistas, médicos, bombeiros e advogados estão entre eles. Os voluntários são capacitados para atuar com animais multi espécies, domésticos e silvestres.
Como ajudar
Todas as ações realizadas pelo Grupo de Resgate de Animais em Desastres são voluntárias. Na página oficial do Grad no Instagram (@grad_brasil), é possível fazer doações em dinheiro. Toda a verba recolhida é revertida em insumos e suporte ao trabalho dos profissionais. O grupo também conta com doações e parcerias de empresas, que são firmadas a cada caso.
O grupo também faz capacitações anuais para novos voluntários. A qualificação, que está no seu segundo ano, prepara os profissionais para atuarem em cenários de desastre. Segundo os participantes, o trabalho requer habilidade física e emocional dos voluntários.