O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos relatou no dia 12 dois casos de uma "supermicose". Trata-se da tinea, uma infecção superficial comum e altamente contagiosa de pele, cabelo e unhas causada por fungos dermatófitos.
Nos últimos 10 anos, uma epidemia de tinea grave e resistente a medicamentos antifúngicos surgiu no sul da Ásia pela rápida disseminação da Trichophyton indotineae, uma nova espécie de dermatófito. Caracterizadas por placas inflamadas na pele, as infecções também provocam coceira generalizada pelo corpo.
Os especialistas alertam ainda que casos isolados de Trichophyton indotineae são frequentemente resistentes à terbinafina, um dos pilares do tratamento da tinea. Infecções por esta nova espécie de fungo foram relatadas em toda a Ásia, na Europa e no Canadá, mas ainda não haviam sido descritas anteriormente nos EUA. Os primeiros dois casos relatados agora envolvem pacientes diagnosticados entre dezembro de 2021 e março deste ano.
Os casos
Em 28 de fevereiro, um dermatologista de Nova York notificou as autoridades de saúde pública sobre duas mulheres, sem vínculos epidemiológicos entre si, que apresentavam tinea grave. A infecção não melhorou com o tratamento oral com terbinafina.
Os isolados de cultura de pele de cada uma foram previamente identificados por um laboratório clínico como Trichophyton mentagrophytes e encaminhados ao Wadsworth Center, Departamento de Saúde de Nova York, para posterior revisão e análise. Em março deste ano, os isolados foram identificados como Trichophyton indotineae.
A primeira paciente, de 28 anos, desenvolveu uma lesão que causava coceira generalizada durante o verão norte-americano de 2021. "Ela não tinha outras condições médicas, nenhuma exposição conhecida a uma pessoa com erupção cutânea semelhante e nenhum histórico recente de viagens internacionais", afirmou o CDC.
Foram observadas placas grandes, anulares, escamosas e que causavam coceira no pescoço, abdômen, região pubiana e nádegas. Ela recebeu o diagnóstico de tinea e iniciou a terapia oral com terbinafina em janeiro de 2022. "Como as erupções não melhoraram após duas semanas de terapia, a terbinafina foi descontinuada, e ela iniciou o tratamento com itraconazol. A erupção desapareceu completamente após quatro semanas. Mas, com a recente confirmação, ela está sendo monitorada quanto à possível recorrência da infecção e à necessidade de reinício do tratamento."
A segunda paciente tem 47 anos e desenvolveu o mesmo tipo de lesão em 2022, quando estava em Bangladesh. O filho e o marido tinham erupções semelhantes. Após voltar aos EUA, foi receitado a ela creme de terbinafina, entre outros medicamentos, sem efeito. Posteriormente, a paciente foi tratada com terbinafina oral e seguiu sem melhora.
Recebeu, então, tratamento com griseofulvina, resultando em cerca de 80% de melhora. Agora, aguarda avaliação mais aprofundada, dada a confirmação da infecção por T. indotineae. O filho e o marido estão sendo avaliados. Por não ter histórico de viagem internacional, o primeiro caso chama a atenção das autoridades, pois sugere "potencial transmissão local" da nova espécie de fungo pelos EUA.
O CDC orienta os profissionais de saúde a considerar a infecção por T. indotineae em pacientes com tinea disseminada, principalmente quando as erupções não melhoram com antifúngicos de primeira linha ou terbinafina oral. A identificação correta, segundo o órgão de saúde, requer sequenciamento genômico. "Os esforços de vigilância da saúde pública e o aumento de testes podem ajudar a detectar e monitorar a disseminação de T. indotineae", acredita o CDC.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.