Das 33 cidades que compõem a Associação dos Municípios da Região Central (AM Centro), apenas uma não decretou situação de emergência. Trata-se de Silveira Martins. O levantamento foi feito pela Federação das Associações dos Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), que acompanha a situação da estiagem no Estado.
De acordo com dados apurados pela Famurs e pela Associação dos Municípios da Região Central, estima-se prejuízo de R$ 780 milhões na agricultura e R$ 268 milhões na pecuária, ultrapassando R$ 1 bilhão. As prefeituras já precisaram investir quase R$ 4 milhões com o transporte de água
O prefeito de Restinga Seca, que também é presidente da Famurs, Paulinho Salerno, ressalta que a situação da Região Central é uma das mais preocupantes:
— A Famurs, junto da AM Centro, vem monitorando essas questões que envolvem as perdas na economia dos municípios da nossa região. São perdas que já ultrapassam R$ 1 bilhão, mas lembrando que esses dados são o retrato daquele momento em que os municípios decretaram situação de emergência. Mas há municípios que decretaram lá em dezembro e a situação se agravou e continua se agravando — analisa Salerno.
Apesar da chuva que atingiu a região dos últimos dias, Salerno afirma que ainda não foi o suficiente para amenizar a situação da estiagem.
— O que temos são chuvas esparsas, variando até mesmo dentro dos municípios — projeta Salerno.
O presidente da AM Centro, Fernando da Rosa Pahim, que é prefeito de São Vicente do Sul, afirma que os prejuízos aumentam de uma semana para outra. Ele também revela que os prefeitos da região se articulam para pedir ajuda aos governos estadual e federal.
— Não temos como precisar um número de prejuízos agora, porque a medida que a chuva não vem, vai aumentando. No meu município, em uma semana o prejuízo estava em R$ 70 milhões, na outra estava em R$ 115 milhões. Reunimos os dados de toda a região, oficiamos e protocolamos junto ao gabinete do governador, porque precisamos de atitudes mais efetivas do Estado e do governo federal — ressalta Pahim.
Perdas no arroz, soja e milho
De acordo com o escritório regional da Emater, que atende 35 municípios na Região Central, dois a mais do que o total de associados da AM Centro, 34 deles já decretaram situação de emergência. Também sendo Silveira Martins o único a não ter emitido o decreto.
Conforme o gerente regional da Emater, Guilherme Passamani, devido a alternância das chuvas dentro dos próprios municípios, há lavouras que registram poucas perdas, enquanto outras contabilizam prejuízos maiores.
— Há uma diversidade de situações. Hoje temos lavouras de soja, por exemplo, com prejuízos de 5% a 10% e temos lavouras com praticamente 70% a 80% de prejuízo dentro do mesmo município ou até da mesma localidade. Isso por conta da variação de manejo, plantio, mas principalmente pelas chuvas de intensidade diferente nas regiões — explica Passamani.
Segundo Passamani, as principais culturas da região apresentam perdas significativas. A mais afetada é o milho, embora não seja a maior em termos de área plantada. A soja, que tem mais de 1 milhão de hectares plantados, contabiliza os maiores prejuízos em termos de valores. No arroz, o município de Restinga Seca é o que mais tem sofrido.
— Os prejuízos já são bastante significativos. Muito forte na cultura do milho, apesar de não ter uma expressão tão grande em área plantada na região, mas é a mais afetada. Já são perdas efetivas. No arroz temos relatos e observações com algumas áreas sendo abandonadas por falta de águas e de possibilidade de coletar essa água seja dos rios ou das barragens e açudes. E a soja, que é o nosso carro-chefe, é a que tem a maior expressão em prejuízo econômico, uma vez que a área plantada é muito grande — avalia Passamani.
O prefeito de Silveira Martins, Fernando Cordeiro, diz que a Secretaria de Agricultura do município e a Emater estão fazendo levantamento da situação. Depois disso será feita uma avaliação para decidir sobre a necessidade do decreto ou não.
Alternativas
O presidente da Famurs ressalta que busca-se alternativas junto ao governo do Estado para ajudar os produtores.
— Buscamos o pagamento dos recursos do Avançar na Agricultura para a perfuração de poços, tendo em vista que dos açudes já estão sendo pagos. Agora queremos a perfuração de poços. Na região já existem algumas perfuratrizes em comunidades de municípios perfurando poços em função da nossa situação ser uma das piores. E também defendemos, por meio da Famurs, a criação de uma linha de crédito, subsidiado ou a juro zero, para fomentar a compra de equipamentos de irrigação.
Em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, o secretário de Agricultura do Rio Grande do Sul, Giovani Feltes, reforçou que a situação da Região Central é preocupante. O secretário revelou que em breve deve ser publicado edital para que os municípios tentem um recurso de R$ 130 mil para a perfuração de mais poços.
— Já temos ideia onde prioritariamente esses recursos dos poços devam ser canalizados. Os municípios se habilitando, a preferência será exatamente para essa Região Central em função dos efeitos que a estiagem tem provocado — adianta Feltes.