O velório do jornalista do Grupo RBS David Coimbra, realizado até o começo da tarde deste sábado (28), garantiu uma despedida repleta de algumas das principais paixões cultivadas pelo cronista ao longo de seus 60 anos de vida.
A família, os amigos mais próximos, rodadas de chope bem servido em meio a conversas e reencontros de velhos conhecidos, além de uma de suas músicas prediletas, marcaram o último adeus a David, morto na véspera em decorrência de um câncer contra o qual batalhou por quase 10 anos.
A cerimônia encheu a Capela Ecumênica do Crematório Metropolitano, por onde passaram companheiros da juventude, ex-colegas de trabalho, autoridades como o prefeito da Capital, Sebastião Melo, pessoas ligadas ao futebol, dirigentes do Grupo RBS e admiradores do texto rebuscado e inventivo de David.
— Mesmo morando nos Estados Unidos, jamais deixou de falar sobre Porto Alegre e do seu IAPI. Deixa uma grande contribuição não só para a cidade, mas para o Estado e o país — afirmou Melo, acrescentando que, posteriormente, pretende procurar a família do jornalista para discutir a criação de alguma iniciativa na cidade, como um memorial ou instituto, que leve o nome do também escritor nascido na Capital e criado no célebre bairro da Zona Norte.
O filho do cronista, Bernardo, 14 anos, personagem de crônicas e livros apaixonados, permaneceu praticamente todo o tempo da cerimônia, realizada entre 7h e 14h, ao lado do pai, acariciando seu rosto e recebendo abraços de forma serena.
Por volta das 11h, como forma de prestar homenagem a outro amor de David, garçons circularam distribuindo copos de “chopes cremosos”, eternizados em inúmeras crônicas publicadas ao longo dos últimos anos em Zero Hora e GZH.
— Isso é a cara dele — recordou a amiga da família Icléa Schmitz, 84.
Os irmãos Régis e Sílvia, inicialmente, pretendiam não dar declarações sobre a perda. Mas decidiram mandar alguns últimos recados para David da forma que ele também gostava de se expressar: pela escrita.
Diretamente no bloco da reportagem de GZH, Régis registrou: “Vendo um pouco das homenagens e declarações, eu compreendi que muitas pessoas captaram a essência do David. Algo que eu achava que só eu me dava conta com profundidade de quem por toda a vida teve um irmão e um melhor amigo. E aí está: leveza, honestidade, lealdade e muita, muita alegria de viver e de estar com todas as pessoas. E amigo é irmão de tantas também. Um brinde a ti, David!”
Sílvia, igualmente de próprio punho, se dirigiu diretamente a David: “Meu irmão, amigo. Tu, que dizias que amigo se escolhe, foi amigo de tantas pessoas e também nos escolhemos. A saudade já é grande. Beijo da tua 'ermã'” – escrito assim mesmo em referência a um bilhete de infância trocado entre eles.
Velado sob camisa do Grêmio
David foi velado sob uma camisa do Grêmio, que veio a ser revelado como seu time do coração, colocada pelo amigo e ex-colega de trabalho Duda Garbi. Mas, em uma demonstração do talento e da isenção do jornalista, o velório também recebeu a presença de colorados ilustres como Rafael Sóbis e Fernando Carvalho.
— Foi um amigo muito querido e leal, que sempre tinha uma palavra boa para as horas difíceis — lembrou Carvalho, citando muitas noites em que dividiram chopes e conversas pela Capital.
Ao final, em uma celebração especial, o padre Ivo Bortoluz recordou características marcantes do cronista como a fidelidade à família, aos amigos e à alegria de viver:
— O David era um amigo de verdade, e contagiava as pessoas com a sua alegria.
Por volta das 14h, o corpo de David Coimbra foi levado para sepultamento no Cemitério da Santa Casa, reservado aos familiares e amigos mais próximos, sob o som de mais uma de suas paixões – a música The Long and Winding Road, dos Beatles.
Na quinta-feira (2), às 18h, será realizada missa de sétimo dia na Igreja Santa Terezinha, no bairro Bom Fim.