Amigos e colegas lamentam a morte de David Coimbra, escritor, colunista de Zero Hora e GZH e apresentador da Rádio Gaúcha, nesta sexta-feira (27). O falecimento foi anunciado por volta das 10h30min durante o programa Timeline. Desde então, a programação da rádio tem recebido relatos de saudade e alegria daqueles que conviveram com o jornalista.
Presidente do Grupo RBS, Claudio Toigo Filho, observou que, além de Coimbra ser um jornalista brilhante, sempre foi generoso ao compartilhar sua inteligência e humor.
— Além de um dos jornalistas mais brilhantes do nosso Estado, David foi um colega que sempre compartilhou com todos nós a sua inteligência e o seu humor irreverente, trazendo leveza até para os temas mais áridos da cobertura. Uma empresa de comunicação é bem-sucedida a partir da soma dos seus talentos. E, com certeza, David faz parte do grupo de jornalistas que ficarão para sempre na história não só da RBS como do jornalismo gaúcho — destaca Toigo.
A jornalista Tânia Carvalho falou sobre a época em que apresentava o Café TV Com junto de Coimbra e sobre a sua relação de admiração profunda pelo colunista.
— É uma pessoa que eu sempre admirei tanto e profundamente. Eu tinha esse encanto quase como um filho pelo David, de ter orgulho da maravilha de pessoa que ele era e sempre foi conosco. Ele voltava comigo e com o Tatata (Pimentel) da TVCom e essas viagens eram sempre hilárias. Foi uma convivência muito rica, muito linda — recorda Tânia, que finalizou dizendo estar de coração partido.
Acionista do Grupo RBS, Nelson Sirotsky destacou que David era um apaixonado pela vida:
— David teve a capacidade de exercer a plenitude da sua capacidade criativa em todos os espaços que ocupou no Grupo RBS. Ele amava o que fazia e é por isso que temos a unanimidade dele em todas as dimensões. O maior legado que o David deixa é essa paixão por aquilo que faz e a paixão pela vida. Somos privilegiados por ter tido a oportunidade de conviver com um personagem dessa dimensão. Ele vai embora numa perspectiva, mas fica dentro dos nossos corações e nas nossas lembranças. O David vai continuar vivo dentro de cada um de nós que teve o privilégio de com ele se relacionar.
Presidente emérito do Grupo RBS, Jayme Sirotsky, lembrou que David, mesmo nos momentos mais "amargos", conseguiu demonstrar a "alegria de viver":
— Minha vida longa me permitiu acompanhar em 65 anos de RBS a trajetória de jornalistas que emprestaram seu talento aos nossos públicos. Todos fizeram trabalhos de muito significado, e David é um daqueles que se destacaram mais. Amadureceu dentro da nossa casa e foi conquistando posições em razão do seu talento. Se transformou em um excelente escritor e cronista saudado por todos nós. David tinha um texto de qualidade elevada, que o fez ser conhecido em todo o país. Era um homem agradável no convívio. E nos deu uma lição de vida, enfrentando o câncer com valentia. Até nos momentos mais amargos conseguiu demonstrar a alegria de viver. Merece nosso respeito e nossa homenagem.
O escritor Eduardo Bueno, o Peninha, disse que teria muitas histórias para contar, mas citou uma ocasião em que foi a Boston com sua filha e disse que eles iriam visitar Coimbra, que, na época, morava lá para fazer o tratamento contra o câncer.
— Ela disse: “o David Coimbra?”. Muita gente criticava ele, tinha preconceito. Quando chegamos na casa dele, ela disse: “Eu te odeio, David Coimbra”. Ele perguntou: “mas tu me conhece?”, e ela disse “não, mas já te odeio”. E, no fim, foi uma tarde maravilhosa. Havia esse preconceito das pessoas, mas ele era um cara espetacular, maravilhoso, cheio de vida. Um raio de sol — resume Peninha.
Coapresentadora do Timeline com Coimbra, Kelly Matos lembrou da convivência com o jornalista na Redação Integrada:
— Ninguém gostava mais de viver do que o David. Eu dizia: “David, eu tô cheia de coisa pra fazer”, e ele dizia: “Ah, não, Kelly, vamos tomar um café”. E aí a gente ia no bar da redação e ele queria ficar tomando café e conversando. Ninguém era mais amigo dos seus amigos do que ele. Às vezes, o mundo todo estava contra aquela pessoa, e ele a defendia com unhas e dentes.
O jornalista esportivo Tino Marcos escreveu em seu Twitter sobre sua amizade com Coimbra e sobre o texto do escritor: "O jornalismo ficou mais pobre, o dono do texto genial, impecável, silenciou. O xadrez perdeu um apaixonado. Eu perdi um colega, um contemporâneo de Copas e viagens. Um amigo gentil e inteligentíssimo. Adeus, David Coimbra! Sua obra ficou, sua energia permanece."
Na Rádio Gaúcha, comentou que, embora se soubesse há muito tempo da situação complicada de saúde enfrentada pelo jornalista, a perda é imensa, mas deixa lições:
— Eu acho que agora é entender. Acho que ele se preparou, sabia que não estava tão distante e foi uma lição que ele deixou pra gente. É com essa leveza que a gente tem que enxergar esse processo, porque daqui a pouco será um de nós. Eu tenho a mesma idade que ele, tudo passa e cada coisa tem seu momento. É hora de sermos solidários com as pessoas, amigos, família.
O jornalista Zé Alberto Andrade contou que já conhecia Coimbra antes de começar a trabalhar com ele, mas que, com a convivência diária, ele se tornou exemplo em diferentes aspectos.
— A única coisa que eu tenho a dizer é: obrigado, David. Eu já tinha admiração por ele antes, mas quando a gente começa a conviver, eu começo a ter todo o tipo de exemplo dele na convivência diária. Colega que era, o cara que dava força quando tu 'tava' mal, mas também te dava um toque quando te via mal e tu não estavas percebendo — observa Zé Alberto.
Grande amigo de David, Adelor Lessa, da Rádio Som Maior, de Criciúma, disse que Coimbra foi um irmão que a vida lhe deu.
— Nos conhecemos aqui em Criciúma, na década de 1980, logo que o David se formou e veio para participar da montagem da estrutura do Diário Catarinense. Nós temos quase a mesma idade e acabamos criando uma amizade sólida. Ele era amigo dos amigos, defendia até a última instância. Competente, inteligente, culto. As conversas com ele nunca eram abobrinha, eram sempre inteligentes — ressalta.
Homenagens no ar
Na abertura do programa Gaúcha+, Paulo Germano relatou que foi assistente do David quando entrou na Zero Hora e, desde então, lhe serviu de modelo sobre como conduzir a vida.
— Quando a gente diz que o cara está sempre feliz, pode parecer que ele não está muito ligado às dores da vida, e pelo contrário. O medo, a ansiedade dominava vários dos meus dias, e o David não deixava isso acontecer. A tristeza, às vezes, precisa tomar conta da gente, quando ela merece, mas o dia a dia não tem que ser triste. E o David, no finalzinho, quando estava bastante fraco, mesmo assim não deixou de celebrar a vida. A vida é boa, e o David mostrava isso para quem estava próximo dele — resume o colega.
Editor da L&PM, Ivan Pinheiro Machado foi amigo e parceiro de edição de livros de Coimbra.
— Não tem nada pior do que perder um amigo. Tivemos uma longa convivência, editamos mais ou menos 20 livros juntos, e foi uma convivência sempre muito alegre — diz, acrescentando, ainda, sua experiência ao editar o David: — Era muito fácil fazer os livros dele, porque tinha uma qualidade incrível. Foi uma honra ter editado o David.
Colega de David na época da faculdade, na PUCRS, o escritor e jornalista Juremir Machado da Silva manteve a amizade com o colunista por toda a vida. Em entrevista para o Gaúcha+, falou sobre como era a relação dos dois.
— Sempre admirei o David, nossa amizade foi permanente e completamente independente de posições políticas. A gente sempre mantinha contato, não tanto de se encontrar, porque eu sou meio bicho do mato, mas a gente trocava conversas. Nos últimos tempos, nossas conversas eram sobre remédios — comenta.
Na época da graduação, a amizade começou logo de cara, quando Juremir chegou à faculdade de cabelo raspado, e David riu dele. Na saída, pegavam o ônibus da linha T1 juntos até a Assis Brasil – Coimbra rumo ao bairro IAPI e Juremir rumo ao Sarandi.
— Ele começava a contar uma história e fazia de um jeito que a história durava todo o trajeto. Quando estava chegando na Assis Brasil, ele chegava ao desfecho. Era um cara irreverente — resume o amigo.
À noite, no Estúdio Gaúcha, o presidente Associação Nacional de Jornais (ANJ) e colunista de GZH, Marcelo Rech, compartilhou como era sua relação com o colega:
— David tinha um talento absurdo, uma facilidade de comunicação, de fazer amigos. Sempre foi muito fácil de gerenciar. Às vezes, a gente tinha umas discussões, eu dizia "ninguém vai ler esse tijolão", mas depois de duas semanas ele voltava a fazer o texto grande de novo.
Rech ainda lembrou a cobertura que o jornalista fez da morte de Leonel Brizola:
— David pegou um avião e produziu duas páginas memoráveis. Colocava o leitor dentro, como se estivesse ali.
Homenagem também nas redes sociais
No Twitter, muitos amigos se pronunciaram sobre o falecimento precoce do jornalista. O músico Thedy Corrêa defendeu que Coimbra foi um guerreiro.
“Descanse em paz, meu amigo. A luta foi ferrenha e você foi um grande guerreiro. Sentiremos falta de tua escrita provocante e de tuas opiniões desafiadoras. Sentiremos tua falta…”