Mais conhecido pelos textos sobre futebol ou pelas crônicas repletas de picardia, loiras longilíneas e mesas de bar, David Coimbra também deixa um amplo legado como intelectual, com duas dezenas de obras publicadas. Leitor voraz, desde criança viveu rodeado de livros e, ao longo de seus 60 anos de vida, montou uma biblioteca robusta.
Se na infância as obras prediletas envolviam histórias policiais e de mistério, de Agatha Christie a Raymond Chandler, com o passar dos anos passou por diferentes “fases de leitura”, como dizia, que incluíram nomes como Bukowski ou John Fante, obras de política e de história. Os relatos históricos acabaram ocupando a maior parte de suas estantes.
— Estou sempre manuseando esses livros de história, estão sempre comigo — contou certa vez em uma entrevista à publicação Editorial J, da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), mesma instituição onde se formou jornalista.
Caso Daudt
Um de seus primeiros trabalhos foi justamente como assessor de imprensa da Livraria e Editora Sulina, cargo em que redigia resenhas de livros, entrevistava autores e acompanhava autores em visitas ao Estado.
Em pouco tempo, viraria ele próprio autor renomado. Estreou na literatura em 1993 com um livro-reportagem envolvendo o célebre Caso Daudt, 800 Noites de Junho, e não parou mais de publicar obras sobre os mais variados temas e em diferentes formatos.
Lançou A História dos Gre-Nais, sobre a evolução do maior clássico esportivo gaúcho, seleções de crônicas (como A Mulher do Centroavante) e contos (A Cantada Infalível), romances como Canibais, em que recria o rumoroso caso policial envolvendo consumo de carne humana na Rua do Arvoredo, em Porto Alegre, além de textos políticos e de história.
A chegada do câncer também influenciou sua produção. Em 2018, lançou Hoje eu Venci o Câncer, em que relata a rotina de enfrentamento da doença e a esperança, com o objetivo de deixar a obra como legado para seu filho, Bernardo. O menino, por quem descreveu sua paixão em diversos textos, também é o motivo principal do livro O Meu Guri, de 2008, no qual reuniu crônicas como uma espécie de “guia bem-humorado para pais de primeira viagem”.
Em um dos trechos de Hoje eu Venci o Câncer, David cogitou sobre seu próprio futuro: “Quantos dias mais me cabem? Não sei. Felizmente não sei. Mas, sejam quantos forem, o que espero deles é poder terminá-los olhando o sol que se põe, talvez sorrindo para alguém que amo, talvez fazendo um brinde à vida, ou apenas dizendo para mim mesmo: tem sido bom.”