— O David foi um guerreiro no sentido de brigar, de batalhar, de fazer, sem dúvida, a parte dele — disse, em entrevista para a Rádio Gaúcha, o médico oncologista André Fay, responsável pelo tratamento de David Coimbra na luta contra o câncer. O jornalista morreu nesta sexta-feira (27).
Fay detalhou que, em 2013, estava em um período de formação nos Estados Unidos, país para onde o jornalista foi em busca de opções para tratar a doença, quando se conheceram. Lá, médico e paciente conseguiram acesso, através de um estudo clínico, a um tratamento que, na época, era considerado inovador, porém, que ainda estava sendo estudado: a imunoterapia.
— O David teve um diagnóstico de um câncer renal já em uma fase avançada, onde essas células saíram do rim e se depositaram em outros tecidos, em outros órgãos. E ele já havia falhado aos tratamentos que nós usualmente utilizávamos para tratar essa doença — explicou Fay, sobre a decisão de, na época, apostarem na imunoterapia.
Segundo o médico, a situação era delicada e o tratamento experimental era o que se acreditava ser o melhor que existia para combater a doença. E, de acordo com Fay, David apresentou uma resposta "absolutamente incrível" à imunoterapia. Ele relatou que todo o cenário que preocupava em 2013 deixou de existir, uma vez que as lesões do jornalista sumiram quase por completo.
Porém, Fay enfatizou que a dúvida que ficou em relação a esses tratamentos novos era como eles iriam se comportar a longo prazo:
— Será que de fato a gente estaria curando aquela doença com esse tratamento ou ela poderia voltar a se manifestar, desenvolver alguns mecanismos de resistência, driblar o funcionamento destes tratamentos e reaparecer tempos mais tarde? E, de fato, depois de muitos anos de termos a doença completamente sob controle e que permitiu que o David pudesse estar conosco, trabalhar, viver a vida junto da família, fazer todas as coisas que eram importantes para ele, a gente viu que essa doença a se manifestar novamente.
Fay explicou que, então, eles foram em busca de outros tratamentos, que até mostraram algumas respostas positivas, mas que, com o passar do tempo, ficou perceptível que a doença não estava completamente vencida e que, de tempos em tempos, ela passava a se manifestar, driblando os medicamentos utilizados, retornando de forma muito agressiva.
O oncologista ressaltou que, por isso, houve bastante dificuldade do ponto de vista de tratamentos, que passaram a ocasionar mais efeitos colaterais, que debilitaram a qualidade de vida de David.
— Ele sentia dores, algumas vezes relacionadas ao tratamento e outras relacionadas à doença. Mas, de fato, nos últimos meses, a gente se deparou com uma doença se manifestando de uma forma muito agressiva, a qual a gente não conseguiu vencer — disse Fay.
Ele ainda apontou que, nos últimos dois anos, houve uma série de altos e baixos no tratamento, enfrentando momentos difíceis, mas com o uso de medicações para controlar a dor e manter David da melhor maneira possível:
— Quando os sintomas começam a ficar mais intensos, também é parte do tratamento médico a gente tirar a dor, manter o David sem dor. E a gente conseguiu fazer isso nos últimos dias, para que ele pudesse estar tranquilo, sem dor e sem esse sofrimento todo.
O oncologista contou que o caso de David Coimbra retrata um pouco da dificuldade de combater o câncer, uma vez que nem mesmo os médicos sabem explicar muito do comportamento da doença. Entretanto, Fay reforça que o jornalista foi um farol para muitas pessoas que passam pela mesma situação, mostrando caminhos, incentivando que pessoas participassem de pesquisas clínicas que, às vezes, são uma alternativa excelente, mas desconhecidas.
— Ele teve um papel extremamente importante. E o próprio livro (Hoje Eu Venci o Câncer) que ele escreveu da história de luta, sem dúvida, serve de inspiração para muitos pacientes poderem encarar o câncer de cabeça erguida, de uma forma positiva, com esperança. Um papel rico e que fica como legado a quantidade de pessoas que ele ajudou e ainda vai ajudar — reforçou Fay.