Começou às 7h deste sábado (28), o velório do jornalista David Coimbra, que faleceu vítima de um câncer, aos 60 anos, nesta sexta-feira (27). A despedida ocorre até as 13h, na Capela Ecumênica do Crematório Metropolitano, na Avenida Professor Oscar Pereira, 584, bairro Azenha, em Porto Alegre. O sepultamento será fechado para familiares e amigos mais próximos. Os dois irmãos do jornalista, Regis e Silvia, chegaram à capela antes das 7h, horário em que os portões foram liberados para os admiradores do cronista.
A mulher de David, Márcia, e o filho, Bernardo, chegaram acompanhados de outros familiares pouco depois das 9h à capela ecumênica decorada com coroas de flores enviadas por pessoas e entidades tão variadas como os vizinhos do condomínio onde morava, presidência e funcionários da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), livrarias e editoras, entre outros admiradores do jornalista.
Pouco depois das 11h, em uma homenagem pensada pelos familiares de David e colocada em prática pelo Crematório Metropolitano, o velório ficou mais parecido com o ambiente que o jornalista mais amava: funcionários passaram a servir chopes cremosos — tantas vezes celebrados nos seus textos — para quem foi dar seu último adeus.
Ao redor de David, com os copos em punho, os familiares fizeram um último brinde.
O amigo e ex-colega de RBS Duda Garbi levou uma camisa do Grêmio — time do coração do cronista — para colocar sobre o caixão.
— Foi a forma que encontrei para homenagear o David — contou Duda.
Postado praticamente todo o tempo ao lado do pai, o filho Bernardo, 14 anos, acariciava o rosto de David e recebia com serenidade os abraços de outros familiares, amigos e leitores do jornalista.
Irmão do cronista, Régis se mostrou emocionado com a avalanche de mensagens e homenagens recebidas até aquele momento:
— Hoje me surpreende. Vendo um pouco das homenagens e declarações, eu compreendi que muitas pessoas captaram a essência do David. Algo que eu achava que só eu me dava conta com profundidade de quem por toda vida teve um irmão é um melhor amigo. E aí está: leveza, honestidade, lealdade e muita, muita alegria de viver e de estar com as pessoas.
Pouco depois das 13h, teve início a celebração de despedida na Capela Ecumênica. O padre Ivo Bortoluz lembrou características marcantes de David como a devoção à família, aos amigos, sua alegria e generosidade.
— O David contagiava as pessoas com a sua alegria — disse o pároco.
Ao final, o corpo do jornalista foi retirado ao som de The Long and Winding Road — que o cronista referiu como a “mais bela do mundo”.
A missa de sétimo dia será realizada às 18h de quinta-feira (2) na Paróquia Santa Terezinha.
Admiradores: leitores e ouvintes
O agente de viagens Mário César Carvalho, 60 anos, foi o primeiro fã de David a chegar ao velório, às 7h15. Morador do bairro Teresópolis, diz já ter perdido as contas de há quantos anos acompanha as crônicas do comunicador. Lembrou da semelhança com um amigo, que também era gremista - assim como David -, e que o “enganou” por muito tempo.
— Eu debatia com meu amigo, fazia aquela chacota saudável no Grêmio, e ele concordava. Depois de 12 anos descobri que ele era gremista. E ontem quando a Andressa Xavier comunicou o falecimento e disse que ele era gremista eu tive a mesma reação de espanto - afirma.
Ambos não se conheciam pessoalmente, mas a proximidade pregava a mesma peça no agente de viagens.
— Certeza que Deus já pegou o David pra ele, que não é bobo — se despede.
Na crônica de sua vida, David tocou realidades semelhantes em um número incontável de leitores. O ponto em comum do jornalista e do admirador Luiz Eduardo Ribeiro da Silva, 56 anos, é a doença: a esposa dele trata um câncer há nove anos.
— Ouvir ontem a morte dele me deu aquele medo. O que eu sei é que me ajudou nesse tempo todo, e a minha esposa, e vai seguir no Céu por nós— complementa.
Luiz Eduardo, que é agente de saúde, fez questão de deixar um presente. Foi sempre lendo e ouvindo o David que ele e a esposa encontraram forças para enfrentar a doença. Luiz deixou seu aparelhinho de rádio de pilhas no caixão do comunicador.
— Vai me fazer falta, vou ficar sem ouvir a rádio até comprar outro. Mas o David merece, um ser superior — conta o profissional da saúde.
Nove anos de luta contra o câncer
Nascido em Porto Alegre, com 60 anos recém-completados, o jornalista do Grupo RBS começou a enfrentar problemas de saúde em 2013, ao ser diagnosticado com um tumor em estágio avançado no rim esquerdo. Após sentir dores no peito, descobriu ainda que a doença já havia se espalhado silenciosamente por meio de metástases ósseas para outras três partes do corpo.
Depois de uma cirurgia para extirpar o órgão e de tentar tratamentos que não surtiram o efeito desejado no Brasil, rumou para os Estados Unidos com o objetivo de dar sequência à luta contra a doença.
No exílio temporário, desde Boston, seguiu escrevendo textos para o jornal Zero Hora e GZH e participando de programas na Rádio Gaúcha, como o então recém-lançado Timeline, sem jamais abandonar o estilo ao mesmo tempo leve e contundente.
De volta ao Brasil em 2020, nos últimos meses David vinha sofrendo novamente com problemas de saúde e precisou fazer interrupções em seu trabalho nos veículos do Grupo RBS. Quando pôde retomar seus afazeres, com o talento e a leveza de sempre, transformou a rotina de dor e mal-estar na crônica Quando Quis Morrer, publicada em 16 de maio.