Diante do cenário econômico desafiador, alguns prefeitos de municípios que integram os blocos 1 e 2 das concessões rodoviárias já admitem retirar dos projetos parte dos investimentos previstos. Essa seria uma forma de garantir tarifas de pedágios mais baixas no atual cenário que apresenta inflação e petróleo em alta, o que tende a encarecer obras viárias. Esse aumento de custo, que também tem a guerra na Ucrânia como fator de influência, é o principal motivo apontado pelo governo do Estado e por especialistas para o desfecho do leilão do bloco 3, realizado no dia 13 de abril.
As seis rodovias que ligam a Serra ao Vale do Caí tiveram interesse apenas do consórcio Integrasul, que arrematou a concessão com um desconto de 1,3% nas tarifas. Com isso, os preços vão ficar entre R$ 6,85 e R$ 9,83, gerando reações negativas por parte dos setores político e empresarial.
Jorge Darlei Wolf, prefeito de Nova Petrópolis, na Região das Hortênsias, é um dos mandatários municipais que abre mão de obras para que a comunidade pague menos nos deslocamentos. A RS-235, que liga a cidade a Gramado, já conta com um pedágio entre os dois municípios, embora a estrada tenha pista simples e falte acostamento em alguns trechos.
Operada atualmente pela Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR), a praça tem tarifa de R$ 7,10. Com a nova concessão, a tarifa máxima prevista para o ponto é de R$ 7,72, com previsão de duplicação do trecho e correções de traçado entre os municípios. Wolf entende, porém, que terceiras faixas poderiam solucionar os gargalos com um menor custo.
— Fomos talvez os pioneiros em encaminhar esse assunto. Nossa expectativa sempre foi, além de duplicação, diminuir o custo do pedágio, tanto que encaminhamos alternativas. O resultado do bloco 3 surpreendeu de forma negativa. Sempre se falou em praticar tarifas abaixo das atuais, mas sabemos que a realidade é outra — observa Wolf.
Nova Petrópolis e Gramado integram o bloco 1 do programa de concessões, o mais extenso dos três. Ao todo, são 444,7 quilômetros de rodovias que passam por 23 cidades da Região das Hortênsias, do Vale do Paranhana, da Região Metropolitana e do Litoral Norte. Nele, estão previstos nove pedágios com tarifas máximas entre R$ 7,10 e R$ 10,42.
No bloco 2, o prefeito de Guaporé, Valdir Fabris, tem visão semelhante a de Wolf. Nesse caso, a prefeitura está disposta a abrir mão da duplicação da RS-129, no trecho que liga o município a Serafina Corrêa, prevista para o 25º ano de contrato.
— Chegamos à conclusão de que duplicações em direção a Casca não seriam necessárias. Ninguém é contra o pedágio, mas não pode passar de R$ 6 — avalia Fabris.
O bloco 2 reúne 414,9 quilômetros de rodovias, todas de pista simples, no norte do Estado, Vale do Taquari e parte da Serra. As estradas ligam, ao todo, 30 municípios e vão contar com sete pedágios, com preço máximo previsto entre R$ 8,87 e R$ 9,99.
Apesar das sugestões apresentadas, os municípios ainda aguardam um retorno do governo do Estado com esperança de que possam ocorrer ajustes finais no modelo final previsto para os blocos 1 e 2.
“Prefiro pagar R$ 8 e ter rodovia melhor”, diz prefeito de Erechim
Já o prefeito de Erechim tem visão diferente sobre o tema. Paulo Polis defende um valor que viabilize os investimentos necessários para a atual realidade. A RS-135, que liga Passo Fundo e Erechim conta com pedágio da EGR com tarifa de R$ 4,90. Embora o valor seja acessível, segundo o prefeito, ele entende que não se reverte em melhoria a quem utiliza a estrada, que tem pista simples e tráfego intenso. A tarifa máxima prevista para a praça na nova concessão é de R$ 9,99, a mais alta do bloco 2.
— Do jeito que está não dá para continuar. O pedágio não serve para nada. O valor alto no bloco 3 é uma questão de custos. Entre pagar R$ 5 e ter uma estrada ruim e pagar R$ 8 por uma estrada duplicada, prefiro pagar R$ 8 e ter estrada melhor — argumenta.
O prefeito também entende que o leilão dos demais blocos deve ser realizado “o quanto antes”:
— Até para ver se aparecem empresas. Não dá para ficar fazendo exercício de futurologia.
Apesar da preocupação com o valor das tarifas, a maioria dos sete prefeitos contatados pela reportagem entende não ser necessário adiar o leilão por conta do momento econômico. A medida chegou a ser defendida por líderes políticos e empresariais da Serra e do Vale do Caí para o bloco 3, inclusive para alteração do modelo já leiloado. O Estado argumenta que adiar os leilões pode acarretar em tarifas mais altas no futuro.
O prefeito de Igrejinha, Leandro Horlle, entende ser importante ter uma conclusão do processo “em curtíssimo prazo”, já que as rodovias que cortam a cidade e municípios vizinhos precisam de ampliação da capacidade. Horlle, que também é presidente da Associação dos Municípios do Vale do Paranhana (Ampara), aguarda o retorno do governo do Estado em relação às sugestões realizadas nas audiências públicas para ter avaliação mais precisa a respeito do modelo previsto para a região.
— Temos consciência de que a tarifa vai subir, porque nenhuma concessionária vai fazer grandes investimentos cobrando R$ 3. O tamanho e a quantidade de empresas que vão participar independem do momento econômico porque quem não participar agora vai ter que esperar 30 anos. Temos expectativa de que possamos ter concorrência por ser o bloco mais extenso e com maior fluxo de veículos — observa Horlle.
Já o prefeito de Casca, Ari Caovilla, é o único entre os ouvidos pela reportagem que disse ser a favor da interrupção do processo para rediscussão do modelo. No último dia 14, a comunidade do município e de cidades vizinhas, como Serafina Corrêa, Nova Araçá e Paraí, realizou manifestação no km 160 da RS-129, onde está prevista a implantação de uma das praças do bloco 2. Caovilla afirma que ainda não teve retorno do governo do Estado a respeito das modificações solicitadas durante as discussões:
— Talvez tenham que ser reavaliados alguns investimentos que no momento poderiam ser protelados e incluir outros que são extremamente urgentes. A questão do preço é determinante e questões do edital limitam o número de participantes. Em leilão com um participante, o preço não vai cair.
O governo do Estado informou que ainda está na fase de avaliação das contribuições obtidas ao longo de consultas públicas e de reuniões com as comunidades.