Maria Antonia, mulher transexual e coronel da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) aposentada, conseguiu mudar os dados do seu documento militar no dia 2 de fevereiro. Nesta data, ela passou a ser reconhecida oficialmente como "Maria" no âmbito trabalhista.
Com a mudança dos dados, ela se tornou a primeira coronel transexual da corporação e a única do país a ocupar a patente. Engajada com a causa LGBTQ, Maria tem um canal no YouTube de apoio a mulheres transexuais e pretende lançar, em breve, um livro contando sua trajetória.
— Muitas pessoas trans e cis já me disseram que gostariam de ver minha história, trajetória e transição segura em um livro. Não tinha pensado nisso ainda, mas agora estou aberta a essa ideia — conta Maria ao Jornal o Globo.
Maria Antonia ingressou na Polícia Militar do Distrito Federal em 1987 e atuou lá até 2006. Ao longo da carreira, ajudou a fundar o 5º Batalhão, responsável por cuidar dos setores das embaixadas a partir do Lago Sul . Ela também exerceu funções no 1º Asa Sul, 2º Taguatinga e 3º BPMs (Asa Norte), além do Comando-geral. Em maio de 2001, a ex-coronel recebeu a medalha de Tiradentes, maior condecoração concedida pela Polícia Militar do Distrito Federal.
Maria conta que desde a infância se identificava com o gênero feminino e relembra que, aos 10 anos, colocava vestidos quando os pais não estavam em casa. Ela demorou alguns anos para se assumir como mulher, devido a pressão social e ao medo de rejeição.
Alguns anos após se aposentar, ela iniciou o processo de transição de gênero. Nessa época, conversou com os filhos, uma mulher de 27 anos e um homem de 29. Para a surpresa de Maria, ambos reagiram bem e a apoiaram.
A militar relembra que nunca sofreu ataque transfóbico no ambiente de trabalho. Além disso, segundo Maria, os ex-colegas da corporação também reagiram bem quando souberam da notícia de que ela pretendia realizar a transição de gênero e mudar a identidade para o feminino.
— A pessoa que é preconceituosa tem algo dentro dela a ser resolvido, isso não diz respeito à vítima do preconceito. Cada uma de nós, independentemente das circunstâncias em que vive, é um universo inteiro, é um ser humano pleno, uma pessoa única — explica.
Maria passou pela transição de gênero aos 57 anos e acredita que não exista idade certa para passar pelo processo. Para isso, ela contou com apoio de vários profissionais e realizou alguns tratamentos. Ao todo, foram oito cirurgias relacionadas à feminização facial.
Apesar de reconhecer a importância da cirurgia, Maria defende a ideia de que ela não é necessária e de que o mais importante é a pessoa se identificar e se aceitar como acredita ser.