Vinte e quatro dias depois de seis pessoas morrerem no Hospital Municipal Lauro Reus, de Campo Bom, a empresa responsável por fornecer oxigênio ainda não entregou a autoridades os documentos necessários para a investigação.
Um dos principais é o relatório de telemetria, que registra os dados da comunicação entre a empresa e o hospital a respeito dos níveis de oxigênio disponível e da necessidade de reposição para evitar falta.
Em 19 de março, seis pacientes de covid-19 morreram depois de o fornecimento de oxigênio ficar interrompido por cerca de 30 minutos. O hospital tem sustentado que não faltou oxigênio e que o que ocorreu foi um problema no sistema de distribuição. Mas horas depois do fato, ainda na manhã de 19 de março, foram registradas em imagens de vídeo a chegada de caminhões para reabastecer o produto.
O caso é apurado pela Polícia Civil e pelo Ministério Público (MP). O hospital está fazendo uma sindicância e há uma auditoria da Secretaria Estadual da Saúde em andamento. O Lauro Reus é administrado pela Associação Beneficente São Miguel (ABSM), que não fala sobre o caso.
Sempre que questionado, o hospital se manifesta por nota, assim como a Air Liquide, que é a fornecedora de oxigênio e contratada pela ABSM. Nesta segunda-feira (12), a empresa disse à GZH que está colaborando com as investigações (leia abaixo).
O MP de Campo Bom aguarda o material da Air Liquide para análise. Conforme a promotora Letícia Elsner Pacheco de Sá, o prazo para a entrega da documentação foi até o dia 30, mas a empresa pediu prorrogação, que se estende até a meia-noite desta segunda. Caso os documentos não sejam fornecidos, a promotora vai avaliar que medida adotar.
Os relatórios também são fundamentais para exames que estão sendo feitas pelo Instituto-Geral de Perícias IGP). É uma perícia do setor de informática do Departamento de Criminalística.
O controle de nível do oxigênio é feito remotamente pela empresa Air Liquide. Um sensor verifica a carga de oxigênio no tanque principal. Ele fica ligado a um controle que envia informações de telemetria para a sede da empresa, em São Paulo, por meio de SMS. Quando o estoque fica abaixo de um certo valor, o sistema avisa a empresa, que deve tomar as providências de reabastecimento.
Não está descartado que o problema tenha começado por uma falha nessa comunicação, ou seja, de que a empresa tenha disparado o alerta, mas que o responsável no hospital não tenha visto. Ou ainda, que o alerta não tenha sido feito.
Contraponto
O que diz a Air Liquide
"A informação não procede. Os fatos estão sendo investigados pelas autoridades competentes e a Air Liquide está colaborando com as investigações para devida apuração do ocorrido."