A presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio Grande do Sul (Crea-RS), a engenheira ambiental Nanci Walter, diz que a entidade está apurando de quem é responsabilidade técnica da ponte provisória que foi levada quinta-feira pelas águas do Rio Caí, em Feliz. O trabalho está sendo feito pela equipe de fiscalização. A estrutura interligava os dois lados do município, entre as localidades de Picada Cará e Arroio Feliz, sendo a única alternativa de passagem de veículos pesados.
Com a queda da Ponte da Felizcidade, como foi batizada, o município de Feliz volta a enfrentar a situação que viveu entre maio e outubro de 2024, quando ficou sem a principal ligação com a comunidade de Picada Cará. A falta da estrutura prejudica a ligação da Região das Hortênsias com o Vale do Caí.
Na opinião da presidente do Crea-RS, a ponte feita com contêineres enfileirados deveria ter sido uma solução mais breve, para um curto período de tempo. A presidente acrescenta que os projetos definitivos deveriam ser executados mais rapidamente, para que as comunidades pudessem transitar com a segurança adequada:
— Faltou um acompanhamento, seja na execução, seja no funcionamento desta ponte baixa. Eu acho que talvez ali o equívoco foi de usar algo provisório por mais tempo do que devia e sem acompanhamento de um profissional legalmente habilitado — acredita Nanci.
A presidente da entidade é cuidadosa ao criticar estruturas provisórias construídas após a enchente que atingiu o Estado em maio do ano passado, no entanto, reforça a importância para que todos os projetos de engenharia tenham o acompanhamento de um profissional com conhecimento técnico:
— É uma ideia que foi tirada do papel e a gente tem que ter o respeito. Eu tenho respeito pelas pessoas que pensaram nesta alternativa. É bem complicado criticarmos agora, mas temos, sim, que dizer para a comunidade, para as lideranças, para quem está nos executivos municipais, nos legislativos, que deve ter um responsável técnico à frente de projetos, principalmente esses que devam garantir a segurança da sociedade, seja da comunidade diretamente impactada ou quem passa por ali ou quem vai empreender ali nas cidades — enfatiza.
O financiamento da ponte foi feito por meio da campanha #ReConstruindo Conexões. A reportagem tentou contato com os organizadores por telefone, mas não teve retorno.
Já o prefeito Júnior Freiberger disse que o projeto e a obra foram executados pela comunidade, "dentro daquilo que tinha de disponibilidade financeira". Mas o chefe do Executivo garante que teve o acompanhamento de engenheiro.
— Estamos falando da ação da natureza. Acredita-se que o que ocorreu ali foi algo semelhante ao que aconteceu na ponte de Vila Cristina — complementa Freiberger, acrescentando que a proposta foi inspirada em uma iniciativa de Marques de Souza.
Em Vila Cristina, em Caxias do Sul, a chuva intensa fez com que a ponte na BR-116 sobre o Rio Caí fosse interditada no dia 12 de maio em virtude de um dos pilares centrais ser totalmente danificado pela água. A pista cedeu e a ponte precisou ser implodida, para que uma nova fosse construída e inaugurada no dia 21 de dezembro.
Prazo para a ponte definitiva
O Pioneiro questionou a Secretaria de Logística e Transportes do Estado (Selt), que disse que as pontes provisórias foram executadas fora da área de domínio da rodovia, por isso, não são de responsabilidade do governo gaúcho.
"Além disso, destacamos que são estruturas adaptadas as realidades locais e de caráter emergencial. Eventualmente, os municípios buscam auxílio do Estado para execução dessas estruturas que, nesses casos, são autorizadas por convênio sendo a execução das obras por parte dos municípios. No caso de Feliz, no entanto, não houve a participação do Estado", divulgou, em nota, a Selt.
Já sobre o andamento da ponte sobre o Rio Caí na VRS-843, a Selt destaca que o contrato para a obra está em andamento e dentro do prazo. A empresa apresentou no fim dezembro os estudos e levantamentos de campo. O Daer solicitou complementações necessárias que estão sendo providenciadas. A próxima etapa é a conclusão da concepção da estrutura e projeto das fundações que a empresa precisa apresentar até fevereiro, para então o Daer aprovar e autorizar o início das fundações. O prazo do contrato para conclusão da obra é fim de 2025.
O prefeito de Feliz, Júnior Freiberger, disse que fez contato com a Selt e obteve o retorno de que as obras se iniciam já em fevereiro.