O Departamento de Auditoria do Sistema Único de Saúde (SUS) no Rio Grande do Sul abriu processo administrativo para apurar a morte de seis pessoas no Hospital Lauro Reus, em Campo Bom, no Vale do Sinos, na última sexta-feira (19). O grupo é composto por profissionais ligados à Secretaria Estadual de Saúde (SES) e quer esclarecer os procedimentos adotados pela instituição no que foi chamado de falha de distribuição de oxigênio. Todos os pacientes que morreram estavam entubados, em tratamento contra a covid-19.
A apuração está na chamada "fase analítica". É quando são coletados dados relacionados ao caso e ao estabelecimento de saúde. Em seguida, será realizada a chamada fase operacional, com visita dos integrantes do departamento ao hospital.
Em nota, a SES declarou que "caso sejam constatadas infrações às normas do SUS, poderão ser aplicadas penalidades na esfera administrativa". A pasta também diz que não há prazo estabelecido para a conclusão do trabalho, que "está sendo tratado como prioridade".
A Câmara de Vereadores de Campo Bom também decidiu abrir uma apuração própria. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi instaurada na segunda-feira (22).
Além do SUS e da Câmara, Polícia Civil, Ministério Público e o próprio hospital abriram investigações. O delegado Clovis Nei da Silva, titular da Delegacia de Polícia de Campo Bom, disse nesta terça (23) que ainda aguarda o hospital responder sobre as informações solicitadas. Entre elas, quem são as vítimas e o que ocasionou o problema.
Também nesta terça, peritos criminais vistoriaram as instalações do hospital. Ao todo, cinco agentes do Departamento de Criminalística do Instituto-Geral de Perícias (IGP) analisaram o sistema de abastecimento de oxigênio líquido do hospital. Foi periciado o cilindro principal, os reservas e demais equipamentos usados para o abastecimento.
Os peritos atuaram em três frentes. Os profissionais da Seção de Engenharia Mecânica periciaram os dutos e registros de abertura de válvulas do sistema, em busca de falhas mecânicas. Os peritos criminais da Engenharia Elétrica avaliaram a demanda de energia do hospital, a existência de geradores e a condição das instalações, com o objetivo de identificar pane que possa ter causado a interrupção no fornecimento. Já os peritos da Seção de Informática fizeram a análise do software que gerencia a comunicação entre o hospital e a empresa fornecedora, para identificar possíveis falhas ou sabotagens no sistema que informa a quantidade de oxigênio disponível. Os laudos serão enviados para a Polícia Civil.
Questionado sobre o andamento das investigações, a Associação Beneficente São Miguel, administradora do hospital, disse que "durante esta semana, estaremos focados na comissão de sindicância e, assim como todos, na busca exaustiva das causas da instabilidade que ocasionou o fato". Também pontuou que a comissão interna que apura o ocorrido acompanha o trabalho do IGP.
A empresa responsável pela distribuição de oxigênio, a Air Liquide, afirmou em nota, ainda no dia dos fatos, que "cabe à unidade de saúde gerir o seu próprio estoque de oxigênio" e que apoiou, a pedido do hospital, o restabelecimento de oxigênio após a falha, apesar de a equipe da instituição ter sido treinada para isso.