Sem mais doses do principal sedativo utilizado na unidade de terapia intensiva (UTI), o midazolam, o Hospital Centenário, em São Leopoldo, passou a buscar alternativas para o medicamento em clínicas veterinárias do Vale do Sinos. É preciso manter a sedação de pacientes entubados com covid-19 para evitar maior sofrimento físico — na instituição, na manhã desta terça-feira (23), são 23 pessoas nessa condição.
A medida foi adotada frente ao não recebimento das doses de midazolam prometidas pelo laboratório Cristália, um dos maiores fornecedores do país. A empresa teve todo o estoque requisitado administrativamente pelo Ministério da Saúde na última semana e, enquanto aguardava orientações do governo federal, suspendeu as entregas.
Somente na segunda-feira (22), em uma reunião dos diretores do laboratório e do ministério, foi acordado que a própria empresa deveria entregar os seus sedativos do kit entubação aos hospitais públicos.
Enquanto o hospital de São Leopoldo não recebe o midazolam, a equipe médica definiu como alternativa o anestésico cetamina - que também está em falta. Médico da UTI do Centenário, Rodrigo Garcez Guimarães diz que a opção não oferece o mesmo conforto aos pacientes e tem maior risco de efeitos colaterais, como alucinação, apesar de ter o uso já recorrente em hospitais. Os medicamentos buscados em veterinárias, segundo ele, possuem a mesma composição que os demais.
— A situação na UTI é extremamente grave. É um hospital de guerra, literalmente, sem fantasiar. Estamos fazendo o máximo que a gente pode com os poucos recursos que a gente tem — desabafa o médico.
O Hospital Centenário chegou a ganhar uma ação para que o laboratório fornecesse, ainda no final de semana, 12 mil ampolas do midazolam em 12 horas. Mas uma nova decisão, após recurso da empresa, estendeu o prazo.
Em nota, o laboratório Cristália afirmou que entregará a partir desta terça as doses suficientes de medicamentos do kit entubação a hospitais públicos do país, o que inclui o Centenário. Não está detalhado, no entanto, quantas doses serão entregues. No texto encaminhado, consta uma declaração do cofundador do laboratório, o médico Ogari de Castro Pacheco, em que afirma, ao se referir aos hospitais de forma genérica, que a quantidade será suficiente para uma semana.
Sobre o impasse envolvendo o Hospital Centenário, a empresa afirmou que a "questão da judicialização está resolvida".
Também nesta terça, o Exército Brasileiro, a pedido do governo do Estado, está distribuindo lotes de medicamentos do kit entubação para hospitais gaúchos. Pelo menos 15 instituições serão contempladas, mas nessa lista não está o Centenário. GZH pediu detalhes e aguarda retorno da Secretaria Estadual da Saúde (SES).