A Polícia Civil ainda aguarda informações do Hospital Lauro Réus, em Campo Bom, no Vale do Sinos, para prosseguir com a investigação que apura a morte de seis pessoas durante falha na distribuição de oxigênio, ocorrida na sexta-feira (19). Até hoje, os agentes não sabem quem são os pacientes que morreram na ocasião.
O delegado Clovis Nei da Silva declarou nesta segunda-feira (22) que está encaminhando novos pedidos ao hospital. Por enquanto, ninguém foi ouvido e as pessoas só devem ser intimadas após a chegada dos primeiros documentos da instituição.
O inquérito, instaurado a pedido do Ministério Público, apura se houve homicídio culposo – sem intenção.
— Objetivo é apurar se houve falha humana ou alguma coisa que levou ao homicídio na forma culposa — explicou o delegado.
As vítimas tinham entre 39 e 67 anos, e todas recebiam tratamento para covid-19. Elas estavam recebendo oxigênio extra na hora da falha nos equipamentos, entre 8h10min e 8h40min de sexta.
Até o momento, parentes de duas pessoas registraram ocorrência. Uma delas foi aberta pela família da diarista Malsia Beatris Mauser, que morreu aos 48 anos. O marido, Pedro Paulo Cunha, 68 anos, garantiu, nesta segunda, que ninguém do hospital explicou como a esposa dele morreu e nem procurou a família após a morte. Ele só soube do óbito da esposa após insistir em vê-la, quando soube da falha pela imprensa.
— Cheguei aqui e exigi: é minha esposa e eu quero ver ela. Daí arrumaram uma enfermeira, veio me buscar ali na frente. Quando cheguei na sala do lado da UTI, disseram assim "infelizmente ela veio a óbito".
Ele ainda questionou "por que não me avisaram" e disse ter ouvido da profissional a resposta: "não sei".
Além de Pedro, Malsia deixou três filhos.
Testemunhas ouvidas pela reportagem de GZH contaram que houve momentos de pânico em frente à instituição na sexta:
— Foi uma cena de terror. As portas abrindo e uma gritaria. As enfermeiras pedindo para o pessoal ligar para os hospitais próximos e pedir tubos de oxigênio. Começaram a chegar ambulâncias, a colocar os pacientes para dentro. Nos pediram para colocar alguns nos carros e levar para o pronto-atendimento. Entrou todo mundo em pânico, e as enfermeiras choravam e diziam que não conseguiram salvar — relatou uma delas, a estudante Ligiane da Silva Alves, 38 anos.
Outras duas investigações estão em aberto para apurar o caso. Uma é conduzida pelo Ministério Público. A outra, uma sindicância aberta pelo hospital sob supervisão da administradora, a Associação Beneficente São Miguel.
Questionado sobre o andamento, o hospital disse hoje que "durante esta semana, estaremos focados na comissão de sindicância e, assim como todos, na busca exaustiva das causas da instabilidade que ocasionou o fato".
A empresa responsável pela distribuição de oxigênio, a Air Liquide, afirmou em nota que "cabe à unidade de saúde gerir o seu próprio estoque de oxigênio", e que apoiou, a pedido do hospital, no restabelecimento de oxigênio após a falha, apesar de a equipe da instituição ter sido treinada para isso.