Conhecido, principalmente, pela maionese e pelo cachorro-quente — de tamanho generoso, em contraste com o cardápio de apenas três opções —, o Cachorrão Carmelito e Beto é uma referência gastronômica no Vale do Taquari. Mais que isso: é um ponto de encontro onde, há 46 anos, pode-se matar a fome e conceber bons momentos.
— Certa vez uma menina nos escreveu uma carta contando que ela só nasceu por causa do cachorrão, porque os pais se conheceram no trailer, começaram a se encarar ali — relembra Henrique Becker Delwing, que administra o estabelecimento atualmente junto com dois outros irmãos.
Henrique é filho de Carmelito Becker e sobrinho de Beto Becker, sócios fundadores do empreendimento, e cresceu dentro do negócio da família. Ele conta que, no começo, a lancheria funcionava em um trailer na Praça da Matriz, em Lajeado, próximo ao Colégio Estadual Presidente Castelo, conhecido na região como Castelinho. No local, agregava o movimento de estudantes.
A ideia de montar uma lancheria perto de uma instituição de ensino foi do próprio Carmelito, vislumbrando boa procura por parte dos alunos. Previsão que se mostrou acertada, vide a longevidade do empreendimento.
Em funcionamento desde 15 de dezembro de 1972, a lancheria começou vendendo cachorro-quente e pastel — que ganhou fama no boca a boca, pela massa caseira feita na hora. Com o movimento crescendo, por questões práticas, optou-se por tirar o item do cardápio e incluir o xis.
Presente desde os primórdios no cardápio, o cachorro-quente se tornou um clássico. Tanto que ganhou até nome próprio: Carmelito, em clara homenagem a um dos proprietários.
— Acho que deu meio certo — resigna-se Carmelito, referindo-se ao tempo de atividade da empresa.
— Meio certo? — protesta a filha Eliana, 43.
Sem esquecer a rua
Para degustar o clássico lanche do Carmelito e Beto, é preciso ir até a Rua Borges de Medeiros, 251, endereço ocupado há cerca de oito anos. O novo espaço é praticamente em frente de onde ficava o trailer na praça.
— Tivemos de sair da rua porque tiraram os ambulantes fixos. Até houve um abaixo-assinado com umas 10 mil assinaturas, mas não adiantou — conta Henrique, complementando que não terminou a faculdade de Administração para se dedicar ao comércio familiar.
A mudança, contudo, não afastou os admiradores.
— É bem tradicional. Todo dia tem fila. Tem um cachorro-quente e um xis bem diferenciado. É a refeição mais famosa da região, é quase uma atração turística — afirma o cinegrafista e publicitário Pedro Horn.
O novo ponto do Carmelito e Beto é uma construção de dois pisos — o andar de cima é um terraço a céu aberto, liberado ao público só no verão ou quando o tempo colabora.
Não há mesas, como em um bar tradicional: apenas bancos coletivos, como os vistos em praças. Um quadro na parede avisa: "Segure o Carmelito com as duas mãos e apoie o cotovelo nas coxas". A ideia, segundo os administradores, é manter o espírito da rua, onde toda gente reunia-se em torno do trailer.
O cardápio tem apenas três opções: cachorro-quente tradicional de salsicha, de bife e xis salada. Se a menu é reduzido, o mesmo não acontece com os lanches. De tão bem servidos, foram incluídas no menu alternativas, como o meio cachorro-quente.
De pai para filho
O Carmelito e Beto prosperou como um negócio de família. E o gosto dos frequentadores pelas refeições do estabelecimento também tem passado de uma geração a outra.
— É bom mesmo, diferenciado. Com o valor que a gente gasta aqui, poderia até ir em um buffet. Mas o buffet não tem gosto de Carmelito — destaca o motorista Fabiano Lagermann, 39, enquanto almoça na companhia do filho Gabriel, 17 anos.
A fama ainda foi além dos limites geográficos.
— Tem gente que está passando pela região e entra em Lajeado só para vir aqui comer — conta o outro sócio da casa, Beto, 64 anos, que agora fica no caixa.
A empresária Annelise Dessoy, 62, atesta que as comidas servidas no Carmelito e Beto têm qualidade internacional.
— Venho desde quando era o trailer na praça. Já andei por vários lugares e não tem igual no mundo. Tenho sobrinhos que moram na Alemanha e, quando vêm para cá, o primeiro lugar que eles querem ir é aqui — afirma Annelise, que aproveitou uma viagem de negócios de Porto Alegre a Lajeado para almoçar Carmelito e Beto.
O segredo do sucesso
É pouco provável encontrar alguém que frequente o Carmelito e Beto e não faça questão de exaltar os atributos da maionese do local.
— A maionese é a melhor do planeta! — destaca a assistente social Janaína Moreira Notargiacomo.
Mantida em segredo, o processo de feitio do condimento é de responsabilidade da filha de Carmelito, Eliana Becker Delwing, formada em Química Industrial com especialização em tecnologia dos alimentos.
— Produzimos para as três unidades — explica Eliana, fazendo referência às lancherias de Estrela e Teutônia, abertas há, respectivamente, três e um ano.
Eliana recorda que, antigamente, a maionese era feita em casa e levada pelo pai de bicicleta até o trailer que ficava na praça.
— O pai chegou a dormir na carrocinha e tomar banho no Taquari (rio que corta a cidade e passa próxima de onde o empreendimento funciona) — conta Eliana.
O sucesso trouxe alguma comodidade, mas não tirou o ímpeto empreendedor dos Becker Delwing.
Agora, os planos são expandir a produção de maionese e comercializar o condimento para os clientes.
— Vai ser bem legal, em pote de vidro, bem artesanal. Acho que até o meio do ano começam as vendas, em um primeiro momento, na região do Vale do Taquari — adianta Henrique.
Em Estrela, o Carmelito e Beto também conta com um caminhão de food truck que participa de eventos. De olho no mercado, a lancheria de Lajeado oferece uma versão vegetariana do famoso cachorro-quente.