Era o bum das rádios jovens – a Continental tocava Bee Gees, Elton John e James Taylor –, as discotecas fervilhavam e o Cine Baltimore exibia Superman. Na Galeria Malcon, a King's Discos fazia sucesso. E as lojas Saco&Cuecão eram referência em estilo para a marmanjada de cabelo comprido.
Foi nessa onda pop, na segunda metade dos anos 1970, quando a cultura americana se intrometia por aqui, que dois irmãos entenderam não só o que os jovens queriam comer – mas especialmente como queriam comer. Newton e Norberto Birmann eram os donos do Rib's, uma das lanchonetes mais badaladas da Capital.
– Tinha um hambúrguer que se chamava Dos Deuses. Ele tinha dois andares, cara, aquilo não existia. Tu, com uma camiseta da Gang, uma calça Topeka flare, comendo um sanduíche de dois andares, tu te sentia parte de um novo mundo – conta o cineasta José Pedro Goulart, hoje aos 59 anos.
Fundado em 1974, depois que o pai dos Birmann vendeu a rede de farmácias Drogabir, o Rib's não era só um fast food: era um vibrante ponto de encontro, na esquina da 24 de Outubro com a Praça Júlio de Castilhos, que conferia um clima moderno a uma Porto Alegre ainda provinciana. No fim da tarde, rapazotes ficavam dando voltas na quadra, com seus Chevettes, Doginhos e Corcéis 2, para espiar as garotas que iam tomar milk-shake na saída do Bom Conselho.
– À noite, a turma saía do cinema e caminhava até lá. O Rib's era o que havia de mais parecido com as lancherias que a gente via no filmes. Como o Brasil ainda não tinha se aberto para as importações, tudo o que vinha de fora era até meio superestimado – recorda o jornalista Roger Lerina, 50 anos.
Newton Birmann, hoje aos 72, lembra que, naqueles tempos, a moda do fast food já havia chegado ao Rio de Janeiro. Para abrir o Rib's aqui em Porto Alegre, ele foi até lá e ofereceu o dobro do salário para funcionários de lanchonetes que faziam sucesso. Trouxe, portanto, a experiência e até receitas de quem já manjava do assunto, mas incluiu inovações memoráveis.
– A maionese com curry, que o pessoal chamava de molho verde, ninguém nunca tinha visto – relembra Newton, para depois citar a aclamada mostarda do Rib's, vendida em 2005 para uma indústria de alimentos: – Quando a gente fabricava, modéstia à parte, era melhor do que essa do supermercado.
Depois da movimentada loja da 24 de Outubro, os Birmann chegaram a abrir outras quatro: na Rua da Praia, na Assis Brasil, na Protásio Alves e no shopping Praia de Belas. Mas só a matriz e a do Centro seguiam abertas em 2002, quando o Rib's fechou de vez.
– Fechou porque cansamos. Basicamente é isso, cansamos de trabalhar – diz Newton Birmann.
No mesmo ano, dois antigos gerentes da lanchonete abriram o The Best Food, no Boulevard Assis Brasil – seguem lá ainda hoje, reproduzindo as receitas do bom e velho Rib's. Até a máquina de milk-shake é a mesma da época.
– O pessoal mais antigo fica feliz, porque o gosto é igualzinho. Mas tem sempre uma ponta de melancolia, porque eles sentem falta do lugar, né? – conta Sidenir Ferreira, 63, um dos donos do The Best Food.
Na semana passada, na esquina da 24 com a Praça Júlio de Castilhos, o famoso murinho do Rib's, onde a turma sentava, foi demolido. O proprietário da área preferiu abrir espaço para vagas de estacionamento. Que é para ninguém mais ficar dando volta na quadra.