Coalizão de 24 veículos de imprensa de todo o país, o Projeto Comprova voltará a atuar a partir de julho para combater a desinformação sobre políticas públicas na internet. Essa será a segunda fase da iniciativa. Em 2018, a missão dos jornalistas era monitorar e desmentir boatos relacionados à eleição presidencial.
Entre os integrantes da coalizão, que trabalhará de forma colaborativa durante o segundo semestre de 2019, estão GaúchaZH, Agence France-Presse (AFP), Band, Band.com.br, BandNews FM, BandNews TV, Canal Futura, Correio do Povo, Estadão, Exame, Folha de S.Paulo, Gazeta Online, Jornal Correio, Jornal do Commercio, Metro Jornal, Nexo, Nova Escola, NSC Comunicação, O Povo, Poder360, Rádio Bandeirantes, Revista Piauí, SBT e UOL.
Jornalistas dos veículos participantes receberão treinamento para checar a veracidade de informações que circulam na internet e nas redes sociais, seguindo a metodologia da organização não governamental (ONG) First Draft, idealizadora do primeiro Comprova. Claire Wardle, diretora executiva da ONG e uma das maiores especialistas do mundo sobre o tema desinformação, participará do lançamento da segunda fase do projeto durante o congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), que que ocorre de quinta-feira (27) a sábado (29) na universidade Anhembi-Morumbi, em São Paulo.
Além da verificação de fatos, o Comprova promoverá ações educativas, como a difusão de cursos online sobre o combate à desinformação. As atividades têm patrocínio do Google News Initiative, do Facebook Journalism Project e do WhatsApp, e são coordenadas pela Abraji.
Outros patrocinadores podem apoiar o projeto até o início do segundo semestre.
Em 2018, 350 mil interações entre o público e jornalistas no WhatsApp
Em 2018, o esforço de 12 semanas de jornalistas de 24 veículos durante uma das mais turbulentas eleições da história do país, união até então inédita na imprensa brasileira, deu origem a 1.750 reportagens e gerou 350 mil interações entre o público e jornalistas do Comprova somente no WhatsApp.
A experiência original começou um ano antes da eleição. Em novembro de 2017, representantes de oito redações debateram a necessidade de superar a competição entre os veículos para, juntos, participarem de um projeto colaborativo que ajudasse a desmistificar informações incorretas que circulavam na internet. A ideia foi inspirada no CrossCheck, coletivo que atuou nas eleições presidenciais da França em 2017 reunindo 37 organizações de mídia.
De acordo com os idealizadores do Comprova, o resultado foi inspirador. O engajamento nas redes sociais relacionado ao conteúdo do projeto superou a marca dos 2,7 milhões. Foram 146 verificações publicadas no site do projeto. Entre os fatos mais polêmicos checados pelas equipes estiveram uma foto em que o autor da facada em Jair Bolsonaro aparecia ao lado do ex-presidente Lula em uma fotomontagem e as supostas mamadeiras eróticas que teriam sido distribuídas em creches. As duas informações eram falsas.
Para receber sugestões de relatos a serem investigados, o Comprova tinha uma conta central no WhatsApp. No total, foram enviados 105.078 relatos com afirmações suspeitas. O público era engajado. Pesquisa feita nos sites e contas em redes sociais do projeto mostrou que 81% da audiência tinha muito interesse em política e questões públicas, embora a maior parte (28%) não se identificasse com nenhum partido político. Um total de 81% concordaram que os relatos do Comprova eram precisos e 77% que o projeto contava a história inteira. Também 40,4% disseram que o Comprova os ajudou a decidir seu voto.
Conforme os organizadores do Comprova, é preciso reconhecer os benefícios múltiplos de projetos colaborativos, incluindo o impacto nas redações, o aprimoramento de informação digital da audiência, o entendimento dos caminhos que a informação percorre online.