O impacto migratório e outras questões que afetam a qualidade de vida dos municípios de Roraima, principamente de Pacaraima, estão entre os desafios do próximo presidente da República, além dos futuros gestores do Estado. Por enquanto, a atual gestão Temer tem focado em intensificar ajuda local e a na interiorização de venezuelanos — o Rio Grande do Sul receberá 646 imigrantes a partir de setembro.
Para o professor de relações internacionais da Universidade Federal de Roraima (UFRR), João Carlos Jarochinski, nenhum candidato apresentou ainda proposta consistente para a política migratória e demais problemas que podem aumentar a instabilidade da região.
— Pacaraima tem um eleitorado pequeno. É um lugar meio esquecido. A gente poderia aproveitar esse boom de notícias sobre Roraima para falar sobre outros temas, como segurança energética. É um desafio, porque o que acontece hoje na Venezuela ultrapassa a questão migratória. É um foco de instabilidade regional — afirmou o especialista, que também coordena o Programa de Mestrado em Sociedade e Fronteira da UFRR.
Jarochinski recomenda que o Brasil se afirme como protagonista de discussões que possam desmantelar a instabilidade da fronteira, neste momento causada pela crise venezuelana, mas que, futuramente, pode eclodir em outros países vizinhos e com outros povos.
— Essa situação com o país fronteiriço é um desafio para nossa política externa e também para retomarmos um papel de protagonismo mais efetivo no aspecto regional. Devemos começar a pensar numa política migratória mais efetiva. Fizemos uma nova lei de migração, que é melhor que a anterior. Só que não basta ter lei. Temos de pensar como melhorar a reposta dos serviços públicos dos municípios de fronteira. Hoje, temos uma presença estatal nas fronteiras basicamente securitária — disse.
Desafios em Pacaraima
A estrutura do município vive o desafio de suportar a demanda dos brasileiros e a grande leva de imigrantes venezuelanos que ingressaram nos últimos dois anos. No auge do novo fluxo migratório, o número de estrangeiros nas ruas de Pacaraima quase se equiparou ao de habitantes do centro da cidade, cerca de 6 mil.
Antes dos conflitos do último dia 18, chegavam a Pacaraimam em média, 600 venezuelanos por dia. Houve meses em que as entradas diárias de imigrantes passaram de mil, segundo a Polícia Federal. Depois dos conflitos da semana passada, centenas saíram da cidade, mas outros continuam entrando.
Na saúde, o município tem mais de 60 estabelecimentos para atendimento ambulatorial, mas apenas na sede há hospital, com poucos leitos, para internação de brasileiros e venezuelanos. Moradores relatam que é comum buscar apoio, principalmente em casos de emergência, no município venezuelano de Santa Elena, ou viajar mais de 200 Km até Boa Vista.