Depois de crescer em 2017, o número de acidentes com morte nas vias do Rio Grande do Sul voltou a cair. No primeiro trimestre de 2018, dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) indicam redução de 7,2% nas ocorrências do tipo e de 6,8% na quantidade de óbitos em comparação com o mesmo período de 2017.
Na prática, isso significou 29 óbitos a menos. A queda foi puxada pelas estatísticas dos primeiros 30 dias de 2018, quando houve menos casos trágicos do que nos meses de janeiro dos anos anteriores (a série histórica começa em 2007). Foi a primeira vez que os registros letais ficaram abaixo de cem no Estado (foram 91 no mês).
É difícil, segundo especialistas, apontar com certeza as razões do decréscimo. Uma das possibilidades é a alta no preço da gasolina, que pode ter levado motoristas a limitarem viagens, expondo-se menos a riscos. Outro fator citado por pesquisadores é o efeito inibidor das ações de controle.
– Em 2017, depois de alguns anos em queda, as mortes nas estradas voltaram a crescer. Foi uma grande decepção. A reação das autoridades tem se traduzido em esforço na tentativa de redobrar a fiscalização. Isso é positivo – avalia João Fortini Albano, doutor em Transportes.
A chefe da Divisão de Educação para o Trânsito do Detran, Laís Silveira, lembra que, em janeiro, os motoristas sentiram o impacto do início da Operação Verão. Nesse período, as blitze da Balada Segura ganharam reforço: passaram a ocorrer, também, em dias úteis, no Litoral e em municípios do Interior.
– É possível que isso tenha contribuído para a redução da acidentalidade. Outro aspecto a destacar é a união de forças entre os órgãos de trânsito, em todas as esferas. Sem isso, é muito difícil mudar a cultura – ressalta Laís.
Incerteza quanto à continuidade da queda
Há dúvidas se a tendência se manterá, porque os números voltaram a crescer em fevereiro e em março – ainda que, na soma do trimestre, o resultado tenha sido melhor do que o registrado em 2017. As informações de abril ainda não estão disponíveis.
– É cedo para fazer projeções. Não dá para descartar nem mesmo que o bom resultado tenha sido obra do acaso. Ainda assim, se uma única pessoa deixa de morrer, já é uma vitória – pondera o professor do departamento de Engenharia de Produção e Transporte da UFRGS Luiz Afonso Senna, ex-secretário de Mobilidade Urbana de Porto Alegre.
Para conter o avanço dos indicadores, o Detran aposta em dois fatores. Um deles é o Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito, sancionado em janeiro, cuja meta é cortar pela metade, em 10 anos, o índice de óbitos em relação a 2018. No Estado, as audiências públicas para definir ações já começaram.
O outro fator que pode trazer benefícios é a inclusão da temática sobre trânsito na nova base curricular nacional. Em junho, o Detran distribuirá material aos colégios da rede estadual. A ideia é aprofundar o tema com estudantes na esperança de formar futuros cidadãos mais conscientes.