Um homem foi preso após sabotar um caminhão-tanque, provocando a colisão do veículo contra duas viaturas da Brigada Militar (BM), por volta das 21h de terça-feira, em Canoas. Foi a 23ª prisão realizada no país em decorrência da greve dos caminhoneiros. A contabilidade foi feita pelo governo federal no início da tarde desta quarta-feira (30), mas o número aumentou pouco após a divulgação. Outros dois manifestantes foram detidos por depredações em Bagé, na Campanha. Na BR-116, perto de Guaíba, seis homens foram presos e um adolescente foi apreendido por ameaça à condutores. Com isso, o total no início da noite era de 34 prisões.
A sabotagem em Canoas aconteceu em frente a sede de uma distribuidora de combustíveis, próxima à Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), onde manifestantes ligados à Central Única dos Trabalhadores (CUT) deflagraram apoio à paralisação dos petroleiros. O manifestante, identificado como Luís Cláudio Freitas Martins e apoiador da greve dos caminhoneiros, subiu em cima do caminhão e arrancou os cabos, levando o veículo a bater nas viaturas. O rapaz fugiu para um matagal, onde foi capturado pela Brigada Militar. Ele foi levado à Cadeia Pública de Porto Alegre, onde continuava preso até a tarde desta quarta-feira. Outras sabotagens foram constatadas em cinco caminhões-tanque, mas os depredadores não foram encontrados.
Embora o governo federal tenha anunciado ainda na semana passada que iria deter autores de abusos durante a greve, o total de prisões até agora é pequeno, considerando a paralisação que teve mais de 1 milhão de caminhões parados (entre adesões e os que foram obrigados a parar), segundo estimativa dos próprios órgãos governamentais. Todas as detenções ocorreram em flagrante.
Das 25 prisões, cerca de metade (12) foram por depredações. O caso mais rumoroso aconteceu em Bacabeira (MA, na Região Metropolitana de São Luís). Sete pessoas foram presas pelo Exército após realizarem o terceiro bloqueio do dia, com pedradas contra motoristas e furos nos pneus de caminhões.
Até a Polícia Rodoviária Federal (PRF) tem trabalhado com serviços de inteligência para melhor identificar infiltrados, informou o diretor-geral do órgão, Renato Dias.
Na segunda-feira, o presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, denunciou que grupos políticos ameaçavam caminhoneiros que queriam voltar ao trabalho e forçavam a manutenção da paralisação. O objetivo dessas ações é prejudicar a estabilidade do governo, constatou ele.
O ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Sérgio Etchegoyen, chamou os presos no Maranhão de "infiltrados" porque nenhum deles é caminhoneiro. GaúchaZH apurou que entre os detidos estão pequenos comerciantes, motoboys e até um político aspirante a se eleger, todos apoiadores da greve dos transportes. Alguns deles pediam "intervenção militar" e a derrubada do governo.
— Saber de infiltrados, sabemos. Mas agitar contra o governo não é crime. Gritar e se movimentar, não. É preciso que cometam delitos — explica Etchegoyen, ao justificar porque a maioria dos infiltrados ainda não foram indiciados ou presos.
Um outro ministro do governo, que prefere não se identificar, confirma que vários infiltrados são conhecidos, mas não foram presos por falta de flagrante. A maioria deles tem perfil de extrema-direita, alguns saudosos da ditadura militar, mas também existem sindicalistas de esquerda, sobretudo nos portos e empresas petrolíferas, todos apoiando a greve dos caminhoneiros. Eles não se misturam nos mesmos atos, mas convergem no objetivo de derrubar o governo Michel Temer.
É por isso que a maioria das prisões aconteceu em flagrantes. Além das depredações (no Maranhão, Paraná e Rio Grande do Sul), ocorreram três prisões por tentativa de homicídio. Em dois desses casos, no Rio Grande do Sul e Rio Grande do Norte, os presos eram pessoas que tentaram furar a greve - no RS, o motorista disparou um tiro contra o bloqueio e acertou um motorista, no RN o motorista atropelou um manifestante. Já em outros quatro Estados (Ceará, Mato Grosso do Sul, Paraná e Minas Gerais) pessoas foram presas por vender combustível adulterado aos que tentavam furar os bloqueios. Um caso pitoresco aconteceu no Paraná, onde um policial federal foi preso por colegas ao distribuir aos motoristas grevistas cigarros contrabandeados e apreendidos pela PF.
6,5 mil militares
O general Antônio Miotto, Comandante Militar do Sul, confirma a GaúchaZH que o Exército abriu sete corredores de segurança em estradas gaúchas, por onde devem escoar os caminhões que abandonaram a greve. Há prospecção de infiltrados, mas a tarefa de monitorá-los ficou a cargos das polícias. A escolta dos caminhoneiros é propiciada por 6,5 mil militares, encarregados também de guarnecer áreas estratégicas, como portos, termoelétricas, hidrelétricas e refinarias.
— Caso necessário, agiremos com energia para liberar as estradas — avisa ele.
Presos por Estado
Em 10 dias de greve, foram realizadas 31 prisões em flagrante.
Rio Grande do Sul - 10 (seis presos por ameaça a condutores, dois por depredações, um por sabotagem e um por tentativa de homicídio)
Maranhão - sete, por depredações e incitação ao crime
Paraná - sete (quatro por depredações e incitação ao crime, dois por venda de gasolina a preço abusivo e um por distribuição de cigarros falsos aos grevistas)
Ceará - dois, por venda de diesel por preço abusivo
Minas Gerais - dois, por venda de gasolina por preço abusivo
Rio Grande do Norte - um, por atropelar um manifestante
Espírito Santo - um, por tentativa de homicídio
Mato Grosso do Sul - um, por venda de gasolina por preço abusivo