No quinto dia da greve dos caminhoneiros em todo o Brasil, um manifestante de 40 anos, natural de Teutônia, foi baleado no início da tarde desta sexta-feira (25) na BR-386, em Estrela, no Vale do Taquari, onde motoristas estão concentrados em vigília para pressionar pela queda de preço do combustível. O autor do disparo é um policial militar aposentado.
Concentrados nos acostamentos, os manifestantes abordaram uma caminhonete que tentava cruzar a rodovia. A intenção dos manifestantes era verificar se o veículo transportava carga — em caso afirmativo, a tendência é de que fosse impedido de seguir viagem.
Houve discussão e o homem de 60 anos, que estava sozinho, sacou uma arma e disparou, acertando a virilha de um dos manifestantes. Ele conseguiu fugir dirigindo a caminhonete. Segundo a Brigada Militar, a arma utilizada pelo condutor, um brigadiano aposentado, está legalmente registrada em seu nome.
— A Brigada Militar foi acionada e conseguiu prender o autor do disparo nas proximidades de Estrela. Ele se entregou. Está alegando legítima defesa. Ainda não se sabe se foi agredido ou ameaçado — explica o coronel Ricardo Hofmann, comandante do Comando Regional de Polícia Ostensiva do Vale do Taquari.
O caminhoneiro alvejado foi encaminhado ao hospital de Estrela e, conforme a Brigada Militar, encontra-se em estado estável, sem correr risco de morte.
— Oficialmente o autor dos disparos ainda não foi apresentado aqui, estou aguardando — afirmou o delegado Augusto Cavalheiro Neto, titular da Delegacia de Pronto Atendimento de Lajeado.
O atirador teria sido também conduzido a um hospital da região para tratar lesões sofridas durante a confusão com os manifestantes.
Segundo relatos que circulam entre policiais, a origem da confusão remeteria a um aglomerado de caminhoneiros na BR-386 em Lajeado. Neste ponto, o policial aposentado teria furado a barreira humana e seguido viagem com a sua caminhonete. Os manifestantes comunicaram o fato aos companheiros que estavam no ponto de protesto mais abaixo da rodovia, em Estrela. Quando o motorista chegou ao bloqueio seguinte, os caminhoneiros promoveram uma abordagem mais severa, forçando a parada do veículo. Teria começado, então, a discussão, a confusão e, por fim, o tiro e a fuga.
Hofmann relata que, no trecho de Estrela da BR-386, não há caminhões atravessados na pista. Somente manifestantes estão concentrados nos acostamentos. Carros de passeio apenas precisam diminuir a velocidade, seguindo viagem sem percalços. Caminhões e outros veículos que podem transportar mercadorias, como caminhonetes, são parados para checagens. Se é constatada carga, são feitas tratativas para abortar a viagem, com adesão ao protesto.
O episódio foi um momento de radicalização em meio ao quinto dia de greve dos caminhoneiros no país, com registro de desabastecimento de diversos itens e ânimos exaltados após negociações frustradas e o anúncio do governo federal de que as Forças Armadas serão acionadas para desobstruir as estradas.
