No dia marcado pelo movimento em defesa da duplicação da BR-116 Sul, a bancada gaúcha no Congresso anunciou que levará a demanda ao presidente Michel Temer. O pedido de audiência no Palácio do Planalto ocorrerá na próxima terça-feira (24) com o intuito de destravar as amarras orçamentárias da obra.
A iniciativa surgiu em um painel que discutiu, na tarde desta sexta-feira (20), em Camaquã, alternativas para concluir a duplicação dos 234,9 quilômetros da rodovia, entre Guaíba e Pelotas. Diante do contingenciamento financeiro para obras, partiu do senador Lasier Martins (PSD) a proposta de busca por verbas suplementares.
– Abre-se um caminho significativo para concluir a duplicação e aumentar a capacidade de desenvolvimento da região – disse o coordenador da Aliança Pelotas, Gilmar Bazanella, um dos líderes do movimento.
Neste momento, os trabalhos em cinco dos 11 lotes da obra seguem paralisados – em dois, a pausa ocorre devido ao pedido de recuperação apresentado pela empresa responsável pelos serviços. Na próxima semana, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) apresentará ao Exército uma proposta para que a corporação conclua os serviços com os materiais destinados pelo departamento.
Já nos outros três trechos estagnados, o principal entrave está na defasagem do preço do concreto asfáltico entre o valor previsto no contrato e o imposto pela Petrobras. Segundo o Dnit, as empresas estão sofrendo prejuízos de até 10%.
– Esse é o principal problema, porque estamos com dificuldades de reajustar o insumo e adequar ao valor real para que as empresas façam o que as pessoas querem, que é liberar a rodovia - disse Hiratan Pinheiro, do Dnit.
Uma das possibilidades, segundo Pinheiro, está em pressionar o Tribunal de Contas da União (TCU) para que libere a possibilidade de reajustes mensais para o material de grande flutuação de preços. Ele acredita que os lotes da obra que estão paralisados devido ao impasse poderiam ser liberados ainda neste ano caso se solucionasse o impasse.
Para o movimento “BR-116 Sul: Duplicação Urgente”, o modesto alívio veio de Pelotas. Cerca de 24 quilômetros do contorno do município devem ser liberados para o tráfego ainda na metade do ano.
Mediado pelo jornalista Daniel Scola, da Rádio Gaúcha, o painel também contou com depoimentos de familiares de vítimas de acidentes na rodovia. Moradores, empresários e políticos ouviram da representante comercial Flávia Barboza, 44 anos, o relato de quem perdeu, ainda criança, os pais e os dois irmãos na BR-116:
– Tem muito sangue espalhado nessa BR, e a gente não quer mais isso.
O dia de mobilizações do movimento contou com o apoio de representantes de ao menos 10 cidades da Região Sul. Em Camaquã, crianças prepararam cartazes nas escolas, e veículos amassados foram distribuídos pela cidade para alertar para o risco de acidentes.
Prevista para ser liberada em 2015, a duplicação está com cerca de 60% das obras concluídas, mas sem perspectiva de entrega. Neste ano, devido a uma emenda impositiva da bancada gaúcha, está previsto investimento de R$ 95 milhões no projeto – porém, para concluí-la, calcula-se ser necessário pouco mais de R$ 500 milhões.