Maior programa habitacional da história do país, o Minha Casa Minha Vida é também uma usina de problemas, compatíveis com seu gigantismo. Duas auditorias divulgadas no ano passado pela Controladoria-Geral da União (CGU), vinculada ao Ministério da Transparência, apontaram uma série de irregularidades.
E sobram exemplos do surgimento de defeitos logo após a inauguração de imóveis do programa. GaúchaZH visitou três locais para conferir.
Em Esteio, na Região Metropolitana, o condomínio Altos da Theodomiro I já nasceu com problemas estruturais. Apresentava fissuras no reboco externo desde o primeiro semestre de ocupação, há seis anos. A Kaefe, construtora responsável, consertou os problemas, cujos remendos ainda estão aparentes nas paredes dos prédios, mas desde então moradores lutam contra outras falhas:
— Rachaduras internas nas escadas e em alguns apartamentos, barranco que separa os terrenos infiltrado de água e que ameaça desmoronar por efeito de erosão e ferrugem em alguns equipamentos-chave, como a caixa d’água — enumera o síndico do condomínio, Rodrigo da Cunha Silveira.
O reservatório de água é um dos principais motivos de temor. Os suportes estão comprometidos por ferrugem e o medo é de um desabamento com vítimas. Silveira calcula que serão necessários R$ 40 mil para consertá-la, fora os transtornos.
Mas não são apenas imóveis da faixa 1 (para rendas de até R$ 1,8 mil) que têm defeitos congênitos. Os moradores do Porto Planalto, faixa 2 (rendas de até R$ 4 mil), construído pela MRV na Rua Tenente Ary Tarragô, zona norte da Capital, convivem desde o início com rachaduras em muros, infiltrações no telhado e pisos trincados.
— As caixas de esgoto não têm profundidade suficiente, ocorrem alagamentos. As calhas têm defeitos. O prédio foi entregue com quatro anos de atraso. Estamos no terceiro ano de existência e a construtora alega que a garantia já venceu — reclama o síndico Fábio de Freitas, que ingressou na Justiça para cobrar os consertos.
Outro empreendimento de melhor padrão e que sofre com problemas crônicos é o Condomínio Cascais, na Avenida Manoel Elias, também na zona norte da Capital. Manchas de umidade e infiltração afloram nos prédios erguidos pela Goldfarb. Defeitos elencados pela CGU e que, segundo os moradores, permanecem.
Contrapontos
O que diz a construtora Kaefe
O responsável pelo setor de manutenção, Marino Miron, diz que grande parte dos problemas no Altos da Theodomiro I ocorre porque o condomínio não fez manutenção. Ele afirma que a Kaefe corrigiu rachaduras nas paredes, criou rampas e consertou calçadas. Com relação à caixa de água, a corrosão teria aparecido após o período de garantia.
O que diz a MRV
GaúchaZH ligou para 10 telefones que constam no site da empresa. Nenhum atendente soube informar sobre manutenção do Porto Planalto.
O que diz a Goldfarb
GaúchaZH não conseguiu localizar representantes da construtora. Telefones que constam no registro da Receita Federal e em sites não existem ou não atendem. O assessor de imprensa não respondeu e-mail da reportagem.