O torcedor do Grêmio que ficou em coma após uma crise de asma durante o primeiro jogo do clube na final da Libertadores apresentou leve melhora no estado de saúde nesta quarta-feira (13). Com isso, os médicos puderam "reduzir a intensidade dos cuidados", o que garante "perspectiva favorável" para a retirada dos respiradores, segundo boletim médico divulgado nesta quarta.
– Ele se encaminha para retirar todas as intervenções – observa o médico Willian Victor Lissa Dalpia, um dos coordenadores da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Conceição, onde, apesar da melhora, o torcedor segue internado em estado grave.
O gremista Fernando Elias Giugiolene Grechi, de 33 anos, passou mal no dia 22 de novembro, durante partida entre Grêmio e Lanús, em Porto Alegre. A suspeita é que a crise de asma possa ter se intensificado pelo inalação da fumaça de sinalizadores utilizados pela torcida no estádio.
Conforme o médico, Fernando chegou ao local transferido do Hospital Cristo Redentor, já com quadro de insuficiência respiratória grave. Devido à situação, passou os primeiros dias sobrevivendo apenas por aparelhos. Até mesmo os rins foram afetados e, por isso, ele está fazendo hemodiálise.
Torcedor já estaria em crise antes de jogo
A suspeita dos médicos é de que Fernando já tivesse apresentado sinais de crise de asma — como tosse e falta de ar — antes de chegar à Arena do Grêmio.
— Ele já foi usando a bombinha para a asma, que foi encontrada no bolso — explica Dalpia.
Os médicos que acompanham o torcedor são cautelosos ao afirmar que a fumaça possa ter gerado a crise de asma. Para eles, o produto "contribuiu" para a situação.
— Estabelecer essa relação de causa e efeito (da fumaça com a gravidade da situação) não se pode fazer. Existem outros elementos, como o próprio retrospecto de saúde do paciente – observa Henrique Saltz Neto, também coordenador médico da UTI.
Por outro lado, Saltz e Dalpia reconhecem a dificuldade da fumaça se dissipar dentro de um estádio, devido ao próprio formato da estrutura, o que pode ter feito Fernando ficar mais tempo em contato com o produto. Os médicos também rejeitam a comparação do caso do torcedor com o das vítimas do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria.
— É uma situação completamente diferente. Lá em Santa Maria ocorreu pelo contato com monóxido de carbono (gás altamente tóxico) — observa Dalpia.
Entretanto, as duas situações são enquadradas como Síndrome de Angústia Respiratória Aguda (Sara), lembra Saltz.
Passados mais de 20 dias da internação, os médicos afirmam que a pior parte já passou. Agora, a preocupação da família é com possíveis sequelas.
— É difícil saber. Ninguém passa por isso sem ter uma consequência. Mas ele é jovem, o que conta a favor. Fora o problema respiratório, nunca teve nada — observa Saltz.
Mulher da vítima já procurou direção do Grêmio
A mulher de Fernando, Lidiele Grechi, 28 anos, afirma já ter entrado em contato com o Grêmio para pedir ajuda na recuperação do marido.
— Ele vai precisar de acompanhamento de fonoaudiólogo e fisioterapeuta — diz Lidiele.
Segundo ela, o time contestou se o fato teria ocorrido dentro da Arena e, por isso, ela pediu o boletim de atendimento da equipe da Unimed, que prestou o primeiro atendimento. Por meio do supervisor do departamento do torcedor, Thiago Floriano, o clube informa que trabalha, junto à Arena Porto-Alegrense, gestora do estádio, para identificar os responsáveis pelo uso de sinalizadores durante a final da Libertadores com o Lanús.
— Além de punições coletivas para a torcida organizada, também se busca a individualização. Estamos fazendo esse esforço justamente para identificar os responsáveis e para que não aconteça nos próximos jogos — explicou Floriano, acrescentando que o Grêmio se coloca à disposição da família de Fernando para os auxílios necessários.
A fiscalização dos torcedores antes da entrada dos jogos é responsabilidade da Arena Porto-Alegrense. Em nota, a Arena afirma que "não permite nem o ingresso nem o uso de sinalizadores em suas dependências". "Além de informar amplamente o torcedor de tal proibição, (a Arena Porto-Alegrense) inibe a transgressão por meio de constante vigilância, que passa por revistas e monitoramento constante por câmeras de vídeo e seguranças. Ressalta que inúmeras apreensões são realizadas em todos os jogos e que os portadores dos objetos conhecem a proibição. A Arena do Grêmio reforça seu compromisso com a segurança dos frequentadores e afirma que colabora com as autoridades para a identificação dos infratores", conclui o texto.