Um gremista de 33 anos não pôde assistir à primeira partida do Grêmio no Mundial nesta terça-feira (12). Também perdeu o jogo que deu acesso do time ao torneio, em Buenos Aires.
Na noite de 22 de novembro, quando o Tricolor jogou contra o Lanús em Porto Alegre, Fernando Elias Giugiolene Grechi teve uma crise de asma ao inalar a fumaça de sinalizadores quando estava em meio à torcida. Ele foi levado para o hospital, onde desde então está em coma induzido na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).
A esposa Lidiele Grechi, 28 anos, conta que nos primeiros dias ele ficou entre a vida e a morte:
— Por nove dias ele não teve melhora alguma. A máquina (de respiração) fazia todo o trabalho por ele. Os médicos esperavam que ele reagisse mais rápido por ser jovem.
A gravidade dos ferimentos de Fernando preocupou uma das médicas que o acompanha, que chegou a comparar o quadro clínico dele ao de sobreviventes da Boate Kiss, em Santa Maria.
— Ele nunca fez tratamento para asma. Nunca teve crise tão forte — conta a esposa.
Segundo ela, Fernando apresentou uma melhora nesta terça-feira (12). De estado grave passou para estável. Nesta quarta-feira (13), ele deve passar por uma traqueostomia e deixar de usar a sonda.
Em nota, o Grupo Hospital Conceição (GHC) observou que o paciente segue em estado grave e instável. Por isso, ele ainda precisar seguir na UTI e com uso de respiradores. "Neste momento, o senhor Fernando não tem perspectiva de alta da UTI", salienta a nota. O hospital concede uma entrevista coletiva sobre o caso a partir das 13h30min desta quarta.
Torcedor foi ao jogo com amigos
Fernando foi ao jogo acompanhado de quatro amigos. Saiu cedo de Xangri-lá, no Litoral Norte, onde mora com a família, e às 16h chegou à Arena do Grêmio. Lidiele ficou em casa com os dois filhos do casal: Miguel, de dois meses, e Cecília, de cinco anos e oito meses.
O primeiro tempo do jogo nem tinha terminado quando Lidiele recebeu uma ligação do Hospital Cristo Redentor. Queriam autorização dela para transferir Fernando para o Hospital Conceição:
— Fiquei apavorada. Por telefone, o hospital falou que não podia passar nada, só que era para vir ao hospital. Daí eu insisti: "Só me diz se ele está vivo ou morto". E não falaram nada.
Desesperada, a auxiliar de educação infantil ligou para os amigos de Fernando. De primeira, não obteve retorno. Tentou novamente e conseguiu falar com um deles, que acabou indo até o hospital:
— Acharam que ele tinha saído da arquibancada e ido para outro local.
Em seguida, Lidiele pegou os dois filhos e seguiu de carro para Porto Alegre, onde chegou na madrugada do dia seguinte. Desde então, ela se divide entre o hospital e a casa de seu pai, em Sapucaia do Sul, onde está hospedada.
Grêmio busca responsáveis por sinalizadores
Lidiele afirma ter entrado em contato com o Grêmio para pedir ajuda na recuperação do marido.
— Ele vai precisar de acompanhamento de fonoaudiólogo e fisioterapeuta — diz Lidiele.
Segundo ela, o time contestou se o fato teria ocorrido dentro da Arena e, por isso, ela pediu o boletim de atendimento da equipe da Unimed, que prestou o primeiro atendimento. Por meio do supervisor do departamento do torcedor, Thiago Floriano, o clube informa que trabalha, junto à Arena Porto-Alegrense, gestora do estádio, para identificar os responsáveis pelo uso de sinalizadores durante a final da Libertadores com o Lanús.
Segundo Floriano, as imagens dos sistemas de monitoramento interno da Arena estão sendo analisadas. Com a identificação, o Grêmio vai proceder com punições internas, como suspensão ou exclusão do quadro de sócios, e encaminhará o caso para o Ministério Público, que, por meio da Promotoria do Torcedor, deve oferecer denúncia ao Juizado Especial Criminal do Torcedor (Jecrim) para punições com base no Estatuto do Torcedor.
— Estamos fazendo um trabalho de identificação em cima dos itens que não são permitidos no estádio. Além de punições coletivas para a torcida organizada, também se busca a individualização. Estamos fazendo esse esforço justamente para identificar os responsáveis e para que não aconteça nos próximos jogos — explicou Floriano, que também diz que o Grêmio se coloca à disposição da família de Fernando Grechi para os auxílios necessários.
A fiscalização dos torcedores antes da entrada dos jogos é responsabilidade da Arena Porto-Alegrense. Em nota, a Arena afirma que "não permite nem o ingresso nem o uso de sinalizadores em suas dependências". "Além de informar amplamente o torcedor de tal proibição, (a Arena Porto-Alegrense) inibe a transgressão por meio de constante vigilância, que passa por revistas e monitoramento constante por câmeras de vídeo e seguranças. Ressalta que inúmeras apreensões são realizadas em todos os jogos e que os portadores dos objetos conhecem a proibição. A Arena do Grêmio reforça seu compromisso com a segurança dos frequentadores e afirma que colabora com as autoridades para a identificação dos infratores", conclui o texto.
Inalação de fumaça pode agravar quadro de asma, diz especialista
A pneumologista Keli Cristina Mann afirma que quadros de asma podem se agravar com a inalação de fumaça como a de sinalizadores, caso o paciente tenha mais sensibilidade.
— É um paciente de risco. Além da inalação, tem outros fatores de risco (como o fato de ter engolido vômito enquanto passava mal). A inalação da fumaça foi o que gerou, não é o que está sendo mais importante — observa a médica, que integra a Unidade de Reabilitação do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM), que prestou atendimento a sobreviventes da Boate Kiss.
Keli salienta que, para saber o diagnóstico do paciente, é preciso saber o tipo da doença, o grau de exposição ao sinalizador e o tipo de produto.