Ambientalistas estão chocados com a poda de árvores em Caxias do Sul. O serviço está sendo executado pela Rio Grande Energia (RGE) sob a justificativa de que a retirada de galhos é necessária para não comprometer a fiação de luz. Contudo, biólogos usaram as redes sociais para criticar fortemente o trabalho, pois entendem que o corte está sendo drástico e pode comprometer a vida de boa parte da vegetação. Quase 8 mil árvores no perímetro urbano exigem manutenção anual, segundo a RGE.
A supressão começou há pouco mais de 15 dias. No último final de semana, as equipes da empresa percorreram ruas centrais como Sinimbu e Os Dezoito do Forte. A concessionária garante que está atuando dentro dos padrões estabelecidos e investiga se a equipe contratada para o serviço está seguindo as orientações. O trabalho chamou ainda mais a atenção porque os restos de galhos e folhas ficaram sob a calçada, dando uma dimensão do tamanho da limpa _ o recolhimento dos restos cabe à Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma).
Na segunda-feira, diante da repercussão, a titular da Semma, Patrícia Rasia, voltou a procurar a RGE para pedir explicações. Ainda nesta semana, os integrantes da ONG Conselho das Árvores entrarão com uma representação no Ministério Público (MP) para que a secretaria se posicione publicamente sobre o tema. O biólogo e integrante do Conselho das Árvores, Otávio Valente Ruivo, conferiu os cortes e diz ter constatado erros de procedimento. Para ele, o serviço apenas evidencia a cultura de que a poda é solução para qualquer problema.
– Antes da poda já temos um equívoco: não há regras para o plantio de árvores e agora surgem os problemas sob a rede. Segundo: o mais correto seria a condução dos galhos (para desviar a copa da fiação, por exemplo)e não a poda radical. Quando tu corta, a árvore responderá com o surgimento de mais galhos. Terceiro: as árvores podem não sobreviver, pois há cortes tão drásticos que abrirão caminho para fungos que matarão a planta – enumera o biólogo.
Vera Damian, outra integrante da ONG, vê exagero e falta de critério nas supressões.
– A Semma tem que responder por isto. Anos atrás, questionamos as podas da RGE e a Semma criou um serviço para treinar as equipes. Agora, estão fazendo de qualquer jeito novamente unicamente a partir dos interesses deles. Se olhares na Sinimbu, várias árvores de 20 anos terão que ser repostas porque não sobrou quase nada ali – alerta Vera.
Semma questiona concessionária
Com a polêmica levantada nas redes sociais, a secretária do Meio Ambiente, Patrícia Rasia, encaminhou ontem questionamento à concessionária para identificar se os cortes estão indo além do necessário. Na semana passada, uma bióloga da Semma já havia orientado pessoalmente os técnicos da RGE sobre a forma correta de executar a poda em Caxias do Sul. Ela reconhece que o plantio correto e o sistema de condução são os meios mais adequados, mas não haveria alternativa diante do quadro atual da rede elétrica e as árvores.
– Mas a orientação que estamos dando é de só tirar os galhos quando estão em contato direto com a fiação – exemplifica Patrícia.
A Semma se responsabiliza apenas pelo desbaste em áreas públicas ou privadas onde há risco para os moradores. Por falta de mão de obra para dar conta da demanda, a remoção de galhos sob a fiação de energia ficou sob a responsabilidade da RGE.
CONTRAPONTO
Questionada pelo Pioneiro, a RGE encaminhou respostas sobre o atual período de podas em Caxias. Confira:
Onde a RGE atuou no final de semana? Quantas árvores foram podadas?
A RGE realizou podas neste final de semana em pontos da área central de Caxias. As podas estão sendo realizadas pela concessionária desde o mês passado, em conjunto com a Semma, em vários pontos da cidade. Não há um número preciso de árvores podadas neste final de semana e sim de regiões, como bairros Rio Branco, Centro e São Pelegrino.
Qual é o motivo da poda?
A poda é realizada para evitar o desarme do sistema de distribuição de energia elétrica, com galhos tocando na rede, e acidentes com a população, uma vez que a RGE não incentiva podas realizadas por pessoas sem o treinamento adequado. Necessário se faz um planejamento através do Plano Diretor do município regulamentando as espécies de árvores que podem ser plantadas no perímetro urbano sem causar conflito com a rede elétrica, tubulação de esgoto, danos nas calçadas, etc, trabalho este que está sendo discutido pela Semma no âmbito de Caxias do Sul.
Que tipo de poda está sendo feita?
A poda é realizada conforme padrões e treinamentos homologados pela Semma e a Gerência de Meio Ambiente da RGE. A poda é realizada por uma empresa contratada e capacitada pela RGE e os casos quem não atendam o padrão serão investigados detalhadamente através de fotos do antes e depois, com o objetivo de identificar quem realizou as intervenções nestes locais.
Até quando vai esse processo? Há estimativa de quantas árvores precisam passar pela poda?
A poda será realizada em todo o perímetro urbano da cidade de Caxias do Sul. Ele acontece com mais intensidade no inverno, por causa do adormecimento das plantas, mas é realizada durante todo ano em caso de necessidade. Existem no perímetro urbano de Caxias do Sul um total de 7.700 árvores mapeadas que necessitam de poda anualmente. Neste ano, já foram realizadas 1.520 podas. Atualmente, há um alinhamento com a Semma em que a RGE faz a poda e comunica o município com três dias de antecedência para que o mesmo faça o recolhimento dos galhos. O que vem acontecendo de forma harmoniosa, como o exemplo das ações de poda realizadas no domingo na Sinimbu e o recolhimento dos resíduos na segunda-feira.