A etapa da Operação Lava-Jato desencadeada nesta terça-feira não atinge apenas adversários do governo, como o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), mas também aliados, como os senadores Renan Calheiros (PMDB-PE) e Fernando Collor (PTB-AL). E até casos isolados, como o senador do PSB pernambucano Fernando Bezerra, ligado ao falecido presidenciável Eduardo Campos (PSB-PE).
Zero Hora obteve a lista dos inquéritos que tramitam no STF contra os investigados. Confira sobre o que cada um é investigado:
Deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ)
As buscas se referem aos inquéritos 3983 e 3993/2015. Os procedimentos investigam propina que teria sido cobrada pelo deputado referente ao contrato para operação de um navio-sonda da Petrobras. Cunha teria exigido US$ 15 milhões para intermediar o negócio junto à Diretoria Internacional da Petrobras, ligada ao seu partido, o PMDB, e encabeçada por Nestor Cerveró (hoje preso em Curitiba, pela Lava-Jato). Fernando Soares (o Baiano), Julio Camargo e Alberto Youssef fizeram delação confirmando esses fatos. O dinheiro teria sido repassado a contas de Cunha na Suíça.
"Que para viabilizar a assinatura do contrato com a Samsung, foi determinado que Julio Camargo repassasse para o PMDB percentual que o declarante não sabe precisar, mas que se destinava a pagamento de vantagem indevida a integrantes do partido PMDB, notadamente o deputado federal Eduardo Cunha", informa a delação de Youssef, sublinhada no inquérito 3993. Cunha sempre negou participação em qualquer ato de corrupção e diz, a respeito das contas no exterior, que não é o titular delas e sim "usufrutuário".
Senador Renan Calheiros (PMDB-AL)
As buscas se referem a cinco inquéritos que investigam Calheiros. Porém, as propriedades do senador não foram vistoriadas. No principal deles, o lobista Fernando Baiano, ligado ao PMDB, mencionou que Renan Calheiros, o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) e o ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau – indicado na época pelo PMDB – teriam recebido dinheiro de esquema de corrupção envolvendo contratos de navios-sonda que trabalham para a Petrobras. Ele aponta que US$ 4 milhões foram desviados de um contrato de navios-sonda para pagamentos que chegaram posteriormente a US$ 6 milhões. O delator comentou que as operações foram completadas pelo lobista paraense Jorge Luz, entre 2006 e 2008. Calheiros ainda não falou hoje sobre o assunto.
Senador Fernando Bezerra (PSB-PE)
As buscas se referem ao inquérito 4005/2015. O senador teria pedido, em 2010, R$ 20 milhões para a campanha de reeleição do então governador pernambucano Eduardo Campos (PSB, morto em acidente aéreo em 2014). A verba seria em caixa 2 (oculta). Quem afirmou isso foram os delatores Paulo Roberto Costa (ex-diretor de Abastecimento da Petrobras) e Alberto Youssef (doleiro, que teria viabilizado o repasse do dinheiro). O senador nega.
Senador Fernando Collor (PTB-AL)
As buscas se referem ao inquérito 3883/2015 do STF. Ele investiga propinas que teriam sido repassadas a Collor pelo doleiro Alberto Youssef. O suborno seria referente a desvios da BR Distribuidora (ligada à Petrobras). A investigação inclui extratos de repasses de dinheiro obtidos em contas administradas pelo doleiro e, também, dinheiro vivo que teria sido entregue por empregados do doleiro para Collor. Collor ainda não se manifestou.
Senador Edison Lobão (PMDB-MA)
As buscas se referem ao inquérito 4075/2015 do STF, que investiga as atividades do senador Edison Lobão, quando ele ainda era ministro das Minas e Energia. O então ministro teria cobrado repasses de propina referentes à construção de Angra 3, usina administrada pela Eletronuclear (sob tutela de seu ministério). Na época das denúncias, Lobão disse que o delator Ricardo Pessoa não apresentou provas e que os depoimentos não possuem qualquer respaldo jurídico.
Deputado Federal Aníbal Gomes (PMDB-CE)
As buscas se referem ao inquérito 3993/2015. O deputado é investigado por suspeita de participação em reuniões com empreiteiros para tratar de valores de propinas em contratos com a Petrobras. O envolvimento do parlamentar foi denunciado pelo ex-diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa, que disse que Gomes era emissário do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que daria sustentação política para que Costa continuasse como diretor da estatal. Na época em que foram divulgadas as denúncias, Aníbal Gomes negou as acusações e disse que não houve entrega ou promessa de recursos para ninguém.
Ministro Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN)
Atual ministro do Turismo, ele teve o nome citado em acordo de delação premiada de Paulo Roberto Costa, que disse ter visto Alves duas vezes na sede da Petrobras para pedir a viabilização da construção de uma unidade de calcificação de petróleo em São Bernardo do Campo (SP). O ministro é citado também por ter participado de uma reunião na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros, para negociar a permanência do ex-diretor na Petrobras. O ministro até agora não falou sobre as buscas hoje.
Celso Pansera (PMDB-RJ)
Ministro da Ciência e Tecnologia, ele era um dos principais aliados de Eduardo Cunha na Câmara antes de ser nomeado por Dilma Rousseff para a pasta. Nas investigações da Lava-Jato, ele foi acusado pelo doleiro Alberto Youssef de ser "pau mandado" do presidente da Casa na CPI da Petrobras. Após a divulgação da delação premiada de Youssef, o ministro confirmou ter contato com Cunha, mas negou ser "pau mandado" dele. Assessores do ministro dizem que ele não vai comentar o assunto hoje.
José Wanderley Neto (PMDB-AL)
Ex-governador de Alagoas, ele é o 1º tesoureiro do PMDB no Estado e possui ligações com o presidente do Senado, Renan Calheiros. Em abril deste ano, Neto foi alvo de uma ação do Ministério Público Federal por desvios de recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). Ele ainda não se pronunciou.
Nelson Bornier (PMDB-RJ)
Atual prefeito de Nova Iguaçu (RJ) e ex-deputado federal, ele é aliado de Eduardo Cunha no Estado. Ainda não foi divulgada a relação de Bornier com a Operação Lava-Jato. Sérgio Machado Ex-presidente da Transpetro indicado pelo PMDB, ele foi citado pelo delator Paulo Roberto Costa, que disse que tinha conhecimento de que a empresa repassava propina a políticos. Costa falou aos procuradores que recebeu R$ 500 mil de Sérgio Machado, pois a diretoria que ele comandou participava da contratação de navios para a subsidiária da Petrobras. Ele ainda não se pronunciou.
Sérgio Machado
Ex-presidente da Transpetro indicado pelo PMDB, ele foi citado pelo delator Paulo Roberto Costa, que disse que tinha conhecimento de que a empresa repassava propina a políticos. Costa falou aos procuradores que recebeu R$ 500 mil de Sérgio Machado, pois a diretoria que ele comandou participava da contratação de navios para a subsidiária da Petrobras. Ele ainda não se pronunciou.