O cenário da ligação entre as pujantes Caxias do Sul, Farroupilha, Garibaldi e Bento Gonçalves chega a ser desolador: são 18 quilômetros da RSC-453 em que é preciso desviar de buracos, diversos trechos da pista sequer têm pintura e placas são encobertas pelo mato. Para quem transita com frequência, o alento é a aparente facilidade de dirigir por conhecer a rodovia e saber onde ficam as crateras que, invariavelmente, se abrem a cada chuva. Sem dinheiro, o Daer não dá prazo para a recuperação, prevista em um contrato de conserva com uma empreiteira.
Empresas instaladas às margens da estrada ou as que precisam necessariamente transitar por ali diariamente sentem os prejuízos no caixa. A lentidão obrigatória em pontos críticos, acidentes e buracos atrasam viagens e entregas de mercadorias, resultando em perdas na produtividade. Mas não é só isso. Na LF Transportes, instalada no Km 109,8, perto da ponte do Buratti, a estimativa é de gasto de quase R$ 120 mil mensais apenas com a manutenção de veículos - esse valor já foi de R$ 100 mil, mas inflacionou nos últimos tempos. Como a empresa fica quase na metade do caminho entre a ERS-122 e a BR-470, não há como escapar. E basta uma caminhada pelo pátio para encontrar caminhões parados com enormes buracos nos pneus, fora os danos que não são aparentemente visíveis.
Segundo o sócio-proprietário Flavio Zan, o negócio é prejudicado, ainda, pelas avarias causadas pelas más condições das estradas - e é difícil um caminhão circular na RSC-453 sem trepidar em enormes crateras. Geralmente, o dano em produtos como móveis e artigos de decoração só é percebido na chegada ao destino final, no Norte ou Nordeste do país.
- São problemas que vão causando a perda lá na frente. Muitas vezes o impacto de cair dentro de um buraco não quebra uma mola, uma balança, mas sim começa a desencadear uma manutenção futura muito elevada, além do nosso esperado. Em vez de tu trabalhar com manutenção preventiva, tem que estar fazendo o tempo todo a corretiva - aponta Zan.
Até a conclusão desta reportagem, o Daer, responsável por administrar a RSC-453, não havia respondido ao pedido de entrevista sobre os problemas na rodovia.
Tempo perdido é outro problema
Além dos danos, a perda de tempo é prejuízo. A Ozelame, cujos ônibus com passageiros passam mais de 50 vezes por dia pela RSC-453, chegou a cumprir o percurso entre Caxias e Bento em uma hora e 10 ou 25 minutos. Hoje a viagem passa de uma hora e 40 minutos em horários de pico, descreve Valdecir Dal Pizzol, instrutor de tráfego. E se há perdas materiais com empresas de transporte de carga, o mesmo ocorre com quem leva passageiros. Os ônibus da Ozelame, que frequentavam a oficina uma vez por semana, hoje têm reparos diários.
- Todo santo dia o ônibus é revisado, a suspensão, e todo dia tem alguma coisa pra trocar. Muitas vezes tu trocou a mesma peça, um estabilizador, por exemplo, em uma semana, na outra semana tem que trocar de novo - conta Dal Pizzol.
Pneus, que poderiam passar por até duas recapagens, chegam a ser totalmente descartados sem passar por qualquer reforma devido à dimensão do dano. Conforme Dal Pizzol, a empresa acaba arcando com os prejuízos:
- A passagem já está defasada, a empresa vem se segurando da maneira que dá, muitas vezes tirando um horário em que não tem tanto fluxo de passageiros, reduz um horário, ajeita de um lado, de outro.
* Colaboraram André Fiedler (Rádio Gaúcha Serra) e Jean Prado (RBS TV)