Mergulhada na incerteza a respeito da real situação de sua economia, a China fará na quarta-feira a maior exibição de poderio bélico desde o fim da Guerra Fria. No 70º aniversário da vitória na II Guerra Mundial (o país, sob o regime nacionalista de Chiang Kai-shek, foi invadido pelo Japão e somou-se aos Aliados), a Praça da Paz Celestial será palco de um tipo de solenidade antes restrito às datas cívicas nacionais: um gigantesco desfile militar. Os números falam por si: 12 mil soldados do Exército Popular de Libertação, cem a 200 aeronaves e cerca de três centenas de peças de material bélico, a maior parte jamais mostrada em público.
A intenção do regime do presidente Xi Jinping é, em primeiro lugar, mostrar que, apesar de a segunda maior economia do mundo ter trocado o galope pelo trote, as forças armadas do país não marcarão passo. A China mantém uma extensa lista de disputas territoriais com vizinhos como Butão, Coreia do Sul, Coreia do Norte, Vietnã, Índia, Mongólia, Filipinas e Mianmar. Isso para não citar Taiwan e Japão, as duas nêmesis de Pequim. Do outro lado do Pacífico, os Estados Unidos observarão o movimento com atenção.
A maior ameaça ao regime chinês, porém, encontra-se entre seus próprios muros: 168 milhões de trabalhadores migrantes constituem, neste momento, a parcela mais precária e insatisfeita da mão de obra no país. É quase um Brasil.
No ano passado, houve 1,3 mil protestos e greves em toda a China - uma média de mais de cem por mês. Submetidos a uma vida que lembra a da classe trabalhadora britânica da era vitoriana, esses chineses odeiam especialmente o luxo e a corrupção da alta burocracia. Da última vez em que tanques como os do desfile de amanhã rodaram em Pequim, em 1989, foi para esmagar os que exigiam menos privilégios e mais democracia.
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